
 
Hoje marca o 25o. aniversário de morte do baixista do Metallica, Cliff  Burton. Em memória a ele, o baterista da banda, Lars Ulrich, falou sobre  ele na edição "Fallen Heroes" de Janeiro/Fevereiro da revista Revolver.  Ele tinha tantas histórias boas sobre Burton, que não couberam na  revista. Então, aqui está tudo que Ulrich disse sobre Burton.
Revolver: O que você se lembra sobre a primeira vez que o viu?
Ulrich:  Eu nunca tinha visto nada daquele jeito. Era tão único e tão original. E  ele tinha essa incrível presença de palco, e esta unicidade a toda  vibe. Eu nunca tinha visto nada como isso. Era novo, era diferente. E  obviamente você conseguia dizer que havia uma habilidade incrível, e  havia uma presença de palco, e todos esses tipos de coisas empacotados  neste tipo incrível de personalidade. E eu acgo que nós estávamos um  pouco intimidados por ele no começo, por ele ser tão único.
Mas  então o conhecemos um pouco melhor, e eu meio que comecei a tentar fazer  com que ele abandonasse o barco [da sua banda Trauma], e então eu  comecei a perceber que ele era um cara bem tranquilo. Mas ele também era  bem firme no fato que de L.A. não era para ele. Porque eu e James  estávamos tentando leva-lo a L.A., e ele não curtia isso. Ele estava bem  enraizado aqui [próximo de San Francisco], ele era quase um caipira do  Northern California. Digo, há muitas vibrações diferentes aqui, e há  definitivamente uma vibração única em Castro Valley e Hayward. E ele era  realmente enraizado de onde ele veio. E ele era provavelmente,  certamente falando por mim, eu era bem mais nômade. Quando nós  viajávamos e coisas do tipo, ele era o primeiro cara a querer ir para  casa. E ele era um o cara que provavelmente tinha as raízes mais fortes  de todos nós. Ele tinha família e meio que uma história. Eu e James  éramos mais solitários.
Revolver: Parecia que ele era relaxado.
Ulrich:  Ele não machucava pessoas. Ele não ultrapassou os limites, mas ele  certamente estava pronto para fazer parte de alguma agitação. Mas mais  por travessura do que para machucar pessoas. Então era mais diversão e  brincadeiras. Ele brigaria de mentira ou algo assim, mandava um tipo de  soco falso, mas ele nunca daria um soco de verdade. Eu acho que nunca vi  o Cliff em uma briga. Eu acho que nunca vi o Cliff em uma discussão  acalorada ou algo assim. Digo, ele era um cara bem tranquilo. E nunca  foi desagradável.
Revolver: Quais são suas melhores memórias dele?
Ulrich:  Minhas melhores memórias de Cliff são sua desconsideração pelo  convencional e sua total desconsideração em fazer as coisas da forma  como você espera. Ele estava lá para desafiar a normalidade, desafiar o  status quo, para foder com as coisas musicalmente, na forma de se  vestir, na forma que ele se levava, seu senso de humor, seu  relacionamento com a música que o inspirou, a música que ele tocava. Era  sempre bem não-convencional, e era sempre bem pouco usual. Você poderia  falar que eu e James [Hetfield] na época éramos caras mais do tipo  quadrado, pois nós éramos mais tipo, "Motörhead, Iron Maiden!".  Camisetas de heavy metal, cabelo comprido e bater cabeça na parede.  Cliff era tão rápido em sua palheta de coisas que ele curtia e coisas  que o inspirava e coisas que eles estava fazendo. Então foi  definitivamente sua música, e sua atitude e seu jeito de viver que  realmente inspirou a mim e a James a expandir nossos horizontes,  expandir os horizontes do Metallica musicalmente. Então quando eu penso  no Cliff, é isto que eu penso... Meio que variedade e falta de predição,  sabe.
Revolver: Quais são algumas das bandas que ele fez você curtir?
Ulrich:  Primeiro de tudo, ele era treinado classicamente, e realmente sabia das  coisas de música clássica. Ele estudou música clássica na faculdade.  Então ele se sentava lá, falando sobre Johann Sebastian Bach, falava  sobre algumas dessas coisas legais de música clássica. E eu havia ouvido  algumas dessas palavras serem lançadas quando Richie Blackmore falou  sobre suas influências, mas não era algo que eu geralmente era exposto.
Então  ele era bem... Sabe, esta coisa sulista. Digo, obviamente eu sabia de  Skynyrd e curtia alguns de seus momentos mais pesados. Mas ele curtia  tanto Skynyrd e .38 Special e ZZ Top e Allman Brothers e todas essas  coisas que meio que vieram com o surgimento do Black Oak Arkansas. E o  Outlars e todas essas coisas, havia toda uma coisas lá.
Ele  também curtia muitas coisas progressivas tipo Yes, e Peter Gabriel, e  muito rock progressivo. E ele era fanático por Rush. Certamente eu  curtia Rush, mas não no mesmo nível que ele. Havia toda um gama de  coisas.
Quando eu conheci o Cliff em 81, eu tinha passado por  muitas experiências musicais. Mas naquela épocam as coisas que estavam  me inspirando a tocar música eram... Eu não posso dizer que Lynyrd  Skynyrd era particularmente uma grande inspiração para que eu começasse a  tocar bateria. Era bem mais restrito. Iron Maiden e Deep Purple e Judas  Priest e Diamond Head e Angel Witch, e as histórias foram contatas  milhares de vezes. E a coisa de New Wave of British Heavy Metal, e Cliff  era bem mais amplo em seu escopo. Eu toquei Diamond Head para ele. Ele  gostou de algumas coisas, ele gostou um pouco da energia do Iron Maiden.  Ele gostou de Witchfinder General, algumas dessas coisas. Mas ele  também, ele era mais seletivo naquilo que gostava, onde eu e James  éramos mais do tipo, cara, New Wave of British Heavy Metal, isso detona!  Onde algumas dessas coisas você pode argumentar 20, 30 anos depois que  não eram tão boas como as outras. Havia acertos e erros nisso.
Mas  o Cliff meio que curtia Peter Gabriel, The Police. Algumas das coisas,  digo, não eram o inimigo porque eu estava ciente do fato de que havia  integridade musical lá. Mas eu não posso dizer que eu conhecia muito do  que o Police estava fazendo além das cinco músicas que eu ouvi na rádio.  Mas de repente, entre as fitas de Diamond Head e Iron Maiden que  tocavam nos ônibus da turnê e nas vans podres, o álbum Zenyattà Mondatta  do Police surgiria. Ou era aquele álbum do Yes? 90125 ou algo assim.  Alguma dessas coisas surgiria. Era bom. Ele amava tocar alguma coisa do  começo do ZZ Top. Eu não conhecia realmente as coisas do Tres Hombres ou  o resto desses álbuns até que o Cliff começasse a jogá-las em nossa  direção.
Revolver: O que você pensa dele quando você olha para trás hoje?
Ulrich:  Ele era realmente legal. Era, obviamente além de perder um irmão, teria  serido mais... Eu ficaria interessado em ver em que mais ele poderia  ter contribuído, pois parecia que estávamos apenas começando. Nós  acabamos de tocar "Orion" de novo na última turnê, nas duas últimas  semanas [quando o Metallica estava se preparando para o show do Big Four  em Abril]. Então tocar "Orion", eu acho que a tocamos três vezes nas  duas últimas semanas. Você se senta lá e de repente, Foda! Que peça  musical incrível. E tão única. E teria sido interessante ver o que mais  poderia ter sido nessa vasta lista de coisas que ele poderia ter  compartilhado com o restante de nós. Essa será eternamente o elemento da  curiosidade. Mas eu sou tão grato por ter tido a chance de tocar com  ele por alguns anos. E ter tido a chance de conhece-lo, e ter tido a  chance de beber com ele, e todas as coisas que provavelmente não seria  legal de imprimir em uma publicação legal e familiar como a Revolver.  Mas definitivamente foi uma época louca, e naquela época nós abraçamos o  que a vida nos ofereceu. E a aceleramos a um "mach 10", como James  costumava falar no palco.