sábado, 27 de novembro de 2010

As 10 mais de James Hetfield....


James Hetfield (METALLICA) revelou à última edição da Rolling Stone quais são suas 10 músicas preferidas de todos os tempos, e explicou o porque de sua escolha:

01. "Free Bird – LYNYRD SKYNYRD
"Nada supera esta balada. 'Free Bird' se encaixa nos 20 primeiros anos de estrada da minha vida - sem se ligar muito às coisas, viver o agora e prosseguir."

02. "Stairway to Heaven" – LED ZEPPELIN
"Quando eu consegui meu primeiro violão, eu tirei o dedilhado inicial dela, e sai correndo pela casa dizendo, 'Olha isso - eu consigo tocar isto!' Minha família ficou com cara de 'Cadê o resto da música?'"

03. "Jailhouse Rock" – ELVIS PRESLEY
"Eu me lembro de o ver pulando sobre barras com todos os seus colegas. Ela encapsula rebelião, o que é na verdade criatividade sem rumo."

04. "Behind Blue Eyes" – THE WHO
"Essa música passa todo aquele sentimento de angústia do jovem. Ela fala sobre pedir ajuda, mas sem realmente querer. Me lembra muito de mim mesmo."

05. "Candle in the Wind" – ELTON JOHN
"'Saturday Night's All Right For Fighting' era mais meu estilo, mas poucas músicas conseguem alcançar esta melodia."

06. "God Only Knows" – THE BEACH BOYS
"Eu comecei a ouvir Beach Boys de novo há uns seis meses. Eu cresci no sul da Califórnia; pra mim, esta música fala sobre algo mais."

07. "Yesterday" – THE BEATLES
"Ela se ligou instantaneamente comigo. Ela faz você pensar."

08. "Black Sabbath" – BLACK SABBATH
"Esta música me assustou. Ela é muito mais que pesada."

09. "Smells Like Teen Spirit" – NIRVANA
"Quando toda aquela onda "Hair Metal" dos anos oitenta estava sendo exaltada, o Nirvana veio com seu som de garagem empolgante e um grande gancho. Era o que a música precisava."

10. "The Boys Are Back In Town" – THIN LIZZY
"Phil Lynott nunca teve medo de escrever a partir do coração, mesmo se fosse meio meloso. Thin Lizzy inspirou muito as harmonias de guitarra do Metallica."

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Entrevista a Playboy: Parte 1 - 04/2001



Uma conversa franca com os gigantes do heavy metal sobre a guerra contra o Napster, as guerras entres eles e o prazer de encontrar 10 garotas peladas no chuveiro.


HETFIELD: "Eu definitivamente não sou o cara mais esperto da banda, então ganhar um argumento intelectual não vai acontecer. Partir para a violência costumava funcionar"



Mesmo quando o Metallica está quieto, eles conseguem fazer barulho.

Em uma manhã do meio de Janeiro, no meio da mais longa pausa de turnês e gravações que a banda já teve, Metallica divulgou um breve, porém sentimental, press release, no qual o baixista Jason Newsted anunciou sua saída do grupo devido aos "motivos pessoais e privados e o desgaste físico que eu fiz a mim mesmo durante anos". Algumas horas depois, uma fonte próxima ao Metallica disse a Playboy que a decisão de Jason encobriu um encontro da banda no dia anterior, de nove horas e meia, no RitzCarlton Hotel em São Francisco, uma seqüência a maratona similar acontecida em uma reunião uma semana antes. O anúncio de Newsted, a fonte disse, foi "muito bem discutida" pela banda.

De certa forma, foi só o tumulto usual para o Metallica, que passou boa parte do último ano tentando vencer - ou, talvez eles digam, um contra-ataque ao - Napster. O site conseguiu estimados 38 milhões de usuários durante os seus 18 primeiros meses ao permitir que fãs trocassem arquivos de som sem pagar nenhuma tarifa; em resumo, provia música gratuitamente. O Metallica abriu processo alegando quebra de direitos autorais e ilegalidade, e em 11 de Julho, o baterista Lars Ulrich - cuja campanha feita à mídia contra o Napster foi cheia de pretensão - testemunhou contra o site frente ao senado americano. Entre politicagem e conferências, o Metallica tocou música também. I Disappear, uma nova música na trilha sonora de Missão Impossível 2, foi indicada a cinco MTV Video Music Awards. E a banda lançou o S&M, um show de dois discos gravado com a San Francisco Symphony Orchestra. Eles fizeram uma turnê durante o verão com Kid Rock, que fez alguns vocais quando o vocalista James Hetfield não compareceu a três shows por causa de um acidente de jet ski. Até a VH1 se juntou a vingança única, mostrando a banda em um pesado Behind the Music. O ano 2000, disse o baixista Jason Newsted, "foi provavelmente o ano de maior aparição do Metallica".

Dentre as milhares de bandas que saíram de ensaios em garagens até estúdios de gravação, apenas sete venderam mais álbuns do que o Metallica nos EUA. Entre elas, duas são lendas de longa data (os Beatles e Led Zeppelin), e os outros - Pink Floyd, os Eagles, Aerosmith, os Rolling Stones e Van Halen - são atos de nostalgia, que passaram muito do prazo de validade ou inconseqüências culturais. Dentre os grupos mais épicos de rock, apenas um - Metallica - ainda está fazendo turnê, ainda está vivo e ainda não precisa de Rogaine (n. do tradutor: remédio para hipertensão).

Quando Hetfield e Ulrich se encontraram em Los Angeles no verão de 1981, unidos por um anúncio em uma revista local de rock, eles tinham pouco em comum exceto o fanatismo pelas mais extremas mutações do rock. O pai de Lars, Torben Ulrich, foi um grande tenista dinamarquês, um boêmio e um fã de jazz; o avô de Lars foi o grande do jazz, Dexter Gordon. Lars tinha tido uma privilegiada, cara infância, cheia de viagens e liberdade. Hetfield, um produto de um lar destruído liderado por um pai que seguia a restritiva religião Ciência Cristã, estava trabalhando dias intermináveis e tinha visto pouco além do surbúbio de LA. Ulrich e Hetfield deslocaram uma versão inicial da banda para São Francisco para garantir os serviços do grande baixista Cliff Burton e o guitarrista adicional Kirk Hammett, um nativo da Bay Area que, como Hetfield, abraçou o rock como refúgio da miséria da adolescência.

As bandas que inspiraram o Metallica são bem obscuras, a não ser que você conheça os pioneiros do thrash europeu como Diamond Head e Blitzkrieg. Mas o Metallica lançou o metal puro para o grande mercado. Eles fizeram isso ao fazerem turnês com uma quase demente determinação, ganhando o apelido de Alcohollica enquanto iam de cidade para cidade como vikings buscando por vodka. Eles fizeram isso ao evitarem os clichés do metal (depois de descartarem suas calças coladas, isto é) como cantar sobre garotas e sexo, ao invés disso deram vozes a raiva, parábolas quase bíblicas sobre brutalidade e guerras. E eles fizeram isto, começando em 1991 com Metallica (também conhecido como álbum preto, devido a sua capa), ao trabalhar com o produtor do Bon Jovi, Bob Rock, ao adicionar experimentalismo e apelo melódico. Onde ele antes falava "volume mais alto do que qualquer coisa hoje" ("volume higher than anything today" - do ensurdecedor e debut da banda, Kill'em All), Hetfield começou a expor a vulnerabilidade que sempre está por baixo da raiva. Em Enter Sandman, ele cantou sobre medos noturnos de crianças, uma alusão a sua própria juventude convulsiva. "Agora eu vejo o sol" ("Now I see the sun"), ele canta, esperançoso, em Unforgiven II. E Nothing Else Matters, uma balada, levou Metallica a um território que nunca havia explorado: amor e satisfação.

Nós mandamos o escritor freelance Rob Tannenbaum para entrevistar a última das grande bandas de rock. Ele descobriu que apesar dos membros da banda estarem fora de sintonia entre eles durante o hiato, eles não estavam fora das mentes um dos outros. Sua descrição:

"Eu não me surpreendi de Jason Newsted ter saído do Metallica. Apenas dois meses antes, eu passei um dia com cada um dos quatro, e eu nunca tinha visto uma banda tão brigada e fracionada. A maioria das reclamações era disfarçada de humor - Newsted cutucou o modo de cantar de Hetfield, Hetfield cutucou o jeito de tocar de Lars, e Lars, que eu entrevistei por último, respondeu várias citações de Hetfield com desdém".

"Mas a tensão genuína era evidente nessas entrevistas - a última a ser feita com essa formação do Metallica - pois todos compartilhavam uma coisa: cada um falava de sua necessidade de solidão. Paradoxalmente, esta é uma banda de solitários, e o conflito entre união e individualismo estava bem claro. Porque eles não estavam se falando, eu me tornei um intermediador da informação. 'Como Jason está se sentindo?', Kirk Hammett, 38, perguntou ansiosamente quando nos encontramos em sua casa na região de Pacific Heights de São Francisco, uma requintada mansão gótica cheia de madeira escura e crucifixos, com uma ovelha de duas cabeças na sala".

"Hetfield, 37, convidou-me para sua casa, atrás de um portão de segurança em uma cidade a menos de uma hora ao norte de São Francisco. Parecia estranho que ele morasse na conhecidamente aconchegante Marin County, mas Hetfield me esclareceu sobre a vizinhança. 'Isto é mais como um tipo de Cidade dos Perdedores', ele disse em um riso profundo. 'Eu estou aqui mais pela sensação'. O lugar onde conversamos parecia mais uma sala rural - acima da lareira, as paredes foram decoradas com cabeças de nove animais que ele matou, incluindo um varrão, um antílope e um búfalo de 800 quilos que ele acertou com quatro tiros de um rifle. Hetfield, que ganhou o apelido Dr. Não por seu controle com a banda, costuma usar metáforas animais, que molda sua decidida perspectiva darwiniana. 'É um momento bem difícil para nós agora', disse Hetfield em um raro momento sóbrio. Mas quando sua esposa, Francesca, e sua filha de três anos, Cali, entram na sala, o autor de 'Seek and Destroy' se levanta e grita, 'Abração!'".

"Quando eu encontrei Lars Ulrich, 37, ele estava separado de sua esposa Skylar e seu filho, e estava vivendo em uma suíte de um hotel no centro de Nova Iorque enquanto mixava um álbum do Systematic pela sua gravadora, TMC. Ulrich é o apressado homem de negócios da banda - enquanto ele brigava e ameaçava, seu celular tocava constantemente - e também o emissário do mundo não-metal: ele é amigo de Matt Damon e Courtney Love, e joga tênis com John McEnroe. Carinhosamente chamado de "o anão dinamarquês" por alguns no círculo da banda, Ulrich de alguma forma consegue ser amigável e competitivo ao mesmo tempo, embora discutir fosse apenas mais uma forma de dizer oi".

"O mais triste integrante do Metallica era Newsted, 38, o qual o encontrei no estúdio de gravação Marin County. Newsted, que se juntou a banda depois que Cliff Burton faleceu em um acidente de ônibus enquanto a banda fazia turnê pela Suécia em Setembro de 1986, foi pressionado pelas restrições de Hetfield que impediram que ele lançasse um álbum solo. Ele brincou sobre a forma de cantar de Hetfield, dizendo 'pelo menos agora podemos chamá-lo de cantor, ao invés de gritador ou berrador. Cinco ou seis anos atrás, eles o teriam chamado de gritador'. Newsted admitiu aos poucos que ele se sentiu 'quase preso' no Metallica. Mas quando perguntado se ele estava infeliz a ponto de sair da banda, ele disse sério: 'eu nunca sairia do Metallica por outra banda. Se eu alguma hora tiver que escolher esse caminho, eu o faria para viver a minha vida, não para sair para tocar em outra banda'".

"Uma fonte de dentro do mundo do Metallica me disse que Newsted 'não está 100 porcento saudável, e ele tem tocado com dor - o baixista também disse a Playboy que ele sairia 'quando o dia que eu não puder mais tocar chegar' com sua costumeira ferocidade. De acordo com a fonte, Newsted (que negou comentar a respeito) disse que ele poderia se mudar para Montana e não tocar um baixo por dois anos, embora seja difícil imaginar esse tipo de inatividade de um cara que sofre de ataques de ansiedade 'se eu tentar ficar sem tocar baixo por seis dias com alguém.' Newsted pode ter saído simplesmente por problemas de saúde, embora a fonte admita que a disputa entre o baixista e o Hetfield fosse 'um fator determinante'".

"Em breve o Metallica terminará seu hiato e retornará ao estúdio como um trio para gravar o novo álbum. Bandas de metal supostamente não devem evoluir: AC/DC, Black Sabbath e Motorhead soam basicamente iguais em seus primeiros álbuns como nos últimos. Mas o Metallica é motivado por 'um medo de repetição,' Lars me disse, então será interessante ouvir seu próximo passo. Então contratarão um novo baixista e voltarão às estradas, mais altos do que nunca".

Entrevista a Playboy: Parte 2 - 04/2001




NEWSTED: "Cinco anos atrás, a banda era a prioridade sobre todas as outras coisas. Agora, família vem primeiro. Eu entendo isso - mas eu sou o único que não é casado"

PLAYBOY: Você passou grande parte do ano lutando contra o Napster. Agora ele está fazendo negócios com a BMG e passando de um serviço gratuito para um serviço pago. A ameaça terminou? Ou um site similar surgirá?

ULRICH: Existem todos os tipos de mini-Napsters por aí. Mas o Napster foi bem sucedido por causa de seu Computador 101 - com um pouco de outras empresas, o programa se tornou realmente complicado. E eles não sairão do controle como aconteceu com o Napster. Agora todos estão de guarda. Para cada nova tecnologia que um garoto de 19 anos cria, alguém cinco minutos depois aparece com um meio de bloqueá-la. Nunca sairá. Mas eu acho que chegará a um ponto que se tornará uma encheção, comparável a, digamos, gravações ilegais e pirataria.

PLAYBOY: O que você conseguiu indo atrás do Napster?

ULRICH: O que nós conseguimos foi principalmente trazer um aviso ao público americano. Isso se tornou a primeira grande coisa do século 21. As pessoas parecem mais sentimentais com isso do que com o negócio de presidente. Obviamente, este tem sido o grande alarme do milênio para todos que tem alguma coisa com a propriedade intelectual. Existe todo esse círculo de velhinhas que criaram um padrão de costura. De repente, todos esses padrões são roubados e trocados na Internet. E essas velhinhas não recebem nenhum royalty por isso.

PLAYBOY: Então o Metallica agora se associou com um monte de velhinhas.

ULRICH: [Vira seus olhos] Entenda como quiser.

PLAYBOY: Alguns de seus fãs ficaram do lado do Napster ao invés do Metallica.

HETFIELD: [Sorri] Porque eles são uns bastardos preguiçosos e querem tudo de graça. Eu acho que o Napster ganhou a guerra da imprensa. Ele feriu a percepção dos fãs sobre nós - eles vêem o Metallica como algum tipo de grandes homens maus que querem tirar suas coisas gratuitas. Eu gosto de tocar música porque é divertido e eu me satisfaço com isso. Mas eu não posso alimentar minha família com satisfação.

PLAYBOY: Então o Napster afetou o Metallica?

HETFIELD: Eu não quero que soe como "O Napster afetou o Metallica". É bem difícil de nos machucar. Eles afetaram a forma como os fãs nos viam.

ULRICH: Eu não concordo. Nós somos alvos desde o começo: desde cortes de cabelos e usar o produtor do Motley Crue-Bon Jovi, Bob Rock, a ser a atração principal do Lollapalooza a escrever baladas a fazer gravações com uma orquestra sinfônica. Isso faz parte de ser um instigador e precursor.

Entrevista a Playboy: Parte 3 - 04/2001







HAMMETT: "Criticismo é algo com que precisamos sempre lidar. Até nossos fãs nos criticam. Nós vestimos coletes a prova de bala. Para dizer a verdade, nós nos alimentamos disso"



PLAYBOY: Apesar de sua loquacidade natural, como o Lars se tornou o porta-voz da banda contra o Napster?

HETFIELD: Minha esposa e eu estávamos tendo nosso segundo filho [Castor, nascido em Maio de 2000]. E minha família é número um. Então o Lars teve que correr com a tocha, e houve alguns movimentos ruins. Você sabe, o Lars pode falar demais e ser uma criança ranhenta às vezes. Eu me abaixei em algumas entrevistas: "oh cara, não fala isso".

ULRICH: Eu disse algumas coisas que eram bem próximas de bestas. Quando o Limp Bizkit apoiou o Napster e pagou 2 milhões [de dólares] para tocar nessa "turnê gratuita" - é possível tocar shows de graça sem ter dinheiro de patrocinadores, porque nós fazemos isso - eu disse que era besteira total. Eu sei que muita gente odeia o Fred Durst, mas eu acho ele muito talentoso. Eu e Fred nos beijamos e nos acertamos. Quando eu abro a minha boca, na maioria das vezes algo eloqüente sai, e de vez em quando eu falo muita merda. Eu estou ciente disso.

PLAYBOY: Que tipo de coisas os fãs falaram na sua cara?

HETFIELD: Alguns fãs falaram, "deixe o Napster sozinho, cara" - se eles fossem suicidas [risos]. Mas isto era depois do "Metallica detona, cara". Então você transformaria seu "obrigado" em um "vai se foder". Eu entrei em várias discussões com os fãs que queriam "discutir" isso. Essa pobre garota em Atlanta, eu a fiz chorar. Ela achou que dinheiro era mau. Por que você não vai viver no Canadá ou algum país socialista?

ULRICH: Se você parar de ser um fã do Metallica porque eu não dou minha música de graça, então vai se foder. Eu não quero que você seja um fã do Metallica.

HAMMETT: Eu ainda estou chocado com a reação que as pessoas têm. Eu achei que era tão óbvio: as pessoas estão pegando nossa música quando não deveriam, e nós queremos pará-los. Computadores fazem parecer que você não está roubando, porque tudo que está fazendo é pressionar um botão. O principal é, roubar não é certo.

PLAYBOY: Vocês deixam muita gente brava. No grupo de Usenet do Metallica tem um tópico chamado "Kirk e Lars são gays".

HAMMETT: Isso mostra a falta de criatividade. Isso é como chamar alguém de "gordo".

Entrevista a Playboy: Parte 4 - 04/2001





ULRICH: "Todos nós tivemos alguns momentos de boa putaria. Eu não acho que exista alguém nesta banda que não teve momentos de gozos ocasionais"

PLAYBOY: Talvez você estivesse certo nos méritos. Mas é difícil que as pessoas simpatizem com os ricos.

ULRICH: Sim, é. Então passa a ser sobre "aqueles rock stars gananciosos". Mas entenda, 80 milhões de discos depois, eu não sei o que fazer com todo o dinheiro que eu tenho. Então podemos falar sobre qual é o problema real? O problema real, pra mim, é a escolha. Eu quero escolher o que acontece com a minha música. Está bem claro que o futuro é vender sua música online. Mas o senso comum lhe dirá que você não poderá fazer isso se o cara do lado estiver dando isso de graça.

PLAYBOY: Quando você começou sua campanha contra o Napster, você sabia que demoraria tanto?

ULRICH: Eu não tinha a menor idéia, não. Todo esse negócio de Lars-Ulrich-cara-das-propriedades-intelecutais não é algo que eu busquei.

PLAYBOY: Você ficou surpreso quando foi vaiado no palco em Setembro no MTV Video Music Awards?

ULRICH: Eu não percebi isso enquanto estava lá em cima. Quando saí do palco, e as pessoas estavam falando, "nossa, você lidou com as vaias muito bem". E eu estava como, "que vaias?".

PLAYBOY: Que surpresa, pois você parecia realmente incomodado.

ULRICH: Eu estava meio bêbado. Foi o pior evento de premiação, sem ofensa, que eu já fui. Eu saí, fui jantar com alguns amigos e tomei algumas bebidas.

PLAYBOY: Quando o criador do Napster, Shawn Fanning, apareceu com uma camiseta do Metallica, eles cortaram para a platéia e você pareceu perplexo.

ULRICH: Você precisa entender, tudo isso foi planejado. Eles pediram para eu apresentar um prêmio para Shawn Fanning. No dia anterior ao evento, os advogados do Napster o tiraram disso. Eles acharam que eu faria algo grosseiro ou ofensivo a ele. A MTV perguntou, "você tem algum problema com ele entrando com uma camiseta do Metallica?". Eu falei algo como, "Vai fundo". Eu sabia disso tudo - eu estava só fingindo estar dormindo. Eu coloquei a minha mão sobre meu rosto, atordoado. Foi tudo meio atuação.

Entrevista a Playboy: Parte 5 - 04/2001





PLAYBOY: O que faria com que você se desarmasse contra o Napster?

ULRICH: Eles têm se mostrados abertos a resolver isto. A única coisa que estávamos atrás era pagar nossos advogados. E nós acreditamos que eles têm capacidade de bloquear o acesso a qualquer banda que queira que seja bloqueada.

HAMMETT: Criticismo é algo com que precisamos sempre lidar, desde o começo. Quando o Kill'em All saiu, não havia nada disso. Quando o segundo álbum saiu, nós tínhamos músicas lentas, pelo amor de Deus! Até nossos fãs nos criticam. Nós vestimos coletes a prova de bala quando se trata de críticas. Para dizer a verdade, nós nos alimentados disso.

HETFIELD: O Metallica ama ser odiado.

HAMMETT: Ama ser odiado, com certeza. Até antes de estarmos na banda, nós éramos estranhos - então essa mentalidade se encaixa bem na gente.

PLAYBOY: Agora que vocês são superstars - não apenas na MTV, mas também na VH1 - é fácil esquecer o quão não populares vocês eram no começo.

HETFIELD: Quando o Lars e eu nos juntamos, nós gostávamos de um tipo de música que não era aceita, especialmente em Los Angeles. Nós éramos rápidos e pesados. Tudo em LA era sobre músicas curtas e pegajosas: Motley Crue, Ratt, Van Halen. E você tinha o visual. O único visual que tínhamos era feio.

PLAYBOY: Ei, mas vocês não eram imunes ao modo de vestir de LA.

HETFIELD: Nós tínhamos nossas lutas contra as calças coladas, com certeza. Você podia mostrar seu pacote. "Vista calças coladas, cara. Isso atrai garotas!". Na nossa primeira turnê pela América, minha calça colada - eu odeio dizer "minha calça colada". É uma frase muito má. Ela estava molhada da noite anterior, e eu a estava secando no aquecedor. Um grande buraco abriu bem na junta das pernas. Eu estava meio, "elas não são calças reais, são? Elas parecem meia-calça". Eu optei por continuar com meu jeans, e esta foi a melhor coisa que já aconteceu. O Lars usou essas calças por toda turnê do álbum preto, embora ele possa negar isso.

ULRICH: Nós éramos bem os excluídos em Los Angeles. No primeiro ano mais ou menos, foi bem solitário.

HETFIELD: Nós fizemos alguns shows em que se nossas namoradas não estivessem lá, não teria ninguém na platéia além do barman. Nós tínhamos alguns fãs mais fiéis que nos seguiam, e eles se tornaram membros da equipe. "Talvez esse cara queira carregar um pouco de equipamento por aí para que não precise fazer isso".

PLAYBOY: De onde o tema medieval, estilo Dungeons-and-Dragons, que aparecia nas primeiras gravações veio?

HETFIELD: Judas Priest era uma banda que todos nós gostávamos. "Oh, ele escreve sobre isso. Ok, então. Isto é o que você faz para ser metal". Então nos aprofundamos mais, "vamos escrever sobre o que fazemos": Whiplash, Hit the Lights e Seek and Destroy, que era só sobre destruir as coisas. Nós tínhamos nossos trabalhos cotidianos. Depois disso, nós fazíamos festas, colocávamos os móveis para fora da casa e destruíamos as juntas. Nós destruímos vestiários só porque deveríamos fazer. Quando você pegava a conta e via, "Nossa! Eu não sabia que Pete Townshend pagou por esta lâmpada!" Voltava da turnê e você não tinha nenhum dinheiro. Você comprou móveis para um monte de produtores.

HAMMETT: Nós bebíamos o dia todo e mal tínhamos tempo para respirar. As pessoas começavam a surgir como moscas sobre a gente, mas nós tínhamos nossa tolerância. Nossa reputação começou a nos preceder. Eu não me lembro da turnê Kill'em All for One - nós começávamos a beber as três ou quatro da tarde.

HETFIELD: Destruir vestiários tinha tudo a ver com a bebida. O pior foi no A Day on the Green. Um amigo e eu, completamente bêbados com Jägermeister, fomos tomados pela idéia de que a comida e as frutas deviam tomar um pouco de vento. "O vento não tá forte o suficiente. Vamos fazer um buraco!". O trailer foi arruinado. Bill Graham - R.I.P. - era o produtor. Eu fui chamado ao seu escritório. Algo como, "você vai para a diretoria agora". Ele disse, "esta atitude que você teve, eu tive a mesma conversa com Sid Vicious e Keith Moon". Eu pensei, "Legal! Oh, espera aí - eles estão mortos. Não é tão legal. Talvez eu devesse me controlar". Eu percebi nesta hora que havia mais em estar em uma banda do que encher o saco das pessoas e destruir coisas.

PLAYBOY: James, o que você achou de Lars depois do primeiro ensaio?

HETFIELD: Lars tinha um kit de bateria bem podre, com um único cimbal. Isso vivia caindo, e tínhamos que parar para ele levantar a porcaria. Ele realmente não era um bom baterista. Até hoje, ele não é o baterista do ano. Todos nós sabemos disso. Quando terminávamos de ensaiar, era como "que merda foi essa?" Nós o obrigávamos a pagar o estúdio também. [risos] Tinha tanta coisa diferente nele. Seu jeito, sua aparência, seu sotaque, sua atitude, seu cheiro. Ele cheirava a - ele cheirava como Dinamarca, eu acho. Eles pensavam diferente sobre banho. Nós usamos sabonete na América.

ULRICH: Crianças americanas, existia esse negócio meio compulsivo de tomar quatro banhos por dia.

PLAYBOY: Bem, você se lavava?

ULRICH: O suficiente para mim. Certo?

HETFIELD: Nós comemos no McDonald's - ele comia sardinha. Ele era de um mundo diferente. O pai dele era famoso. Ele era bem saído. Um rico, apenas criança. Mimado - é por isso que ele tem essa boca. Ele sabe o que quer, ele vai atrás disso e ele conseguiu isso durante a vida inteira.

ULRICH: Eu sou filho único. Eu vim de uma criação tão liberal quanto você pode imaginar. Eu viajei por todo o mundo com meu pai. Então, sim, James Hetfield e eu viemos de passados muito diferentes. Ao ficarmos mais velhos, provavelmente ficamos mais diferentes.

HETFIELD: Ele me introduziu muitas músicas diferentes. Eu passei muito tempo na sua casa, ouvindo coisas. Eu não podia acreditar o tamanho de sua coleção de discos - eu podia comprar, talvez, no máximo um disco por semana, e ele voltava da loja com 20. Ele comprou Stynx e REO Speedwagon, banda que ele ouviu na Dinamarca. E eu falava, "Mas que merda? Por que você comprou Styx?"

ULRICH: Eu tenho uma personalidade obsessiva. Quando eu me interesso por algo, eu preciso aprender tudo sobre isso, não importa se é sobre cadeiras dinamarquesas da grande era moderna entre 1950 e 1956, ou Jean-Michel Basquiat, ou Oasis. Quando eu tinha nove anos, era tudo sobre Deep Purple. Eu podia passar todo o meu tempo sentado do lado de fora do hotel deles em Copenhagen, esperando Ritchie Blackmore sair para que eu pudesse segui-lo na rua.

PLAYBOY: Já que você gosta tanto da Dinamarca, por que você estava em LA?

ULRICH: Eu terminei a escola na Dinamarca e mudei para a América para buscar uma carreira no tênis. Nós acabamos em Newport Beach, que é o lugar mais arrogante de LA depois de Beverly Hills. Tem todas essas crianças com a pocaria de suas camisas Lacoste rosas, e eu com a minha camiseta do Iron Maiden. Eu acho que havia um ódio por tudo isso, um pouco de alienação. James Hetfield era o rei da alienação. Então houve um pouco desse negócio de irmandade que nos uniu.

PLAYBOY: Quão alienado era James quando você o encontrou?

ULRICH: Eu nunca conheci alguém tão tímido. Ele era realmente recatado, praticamente com medo de contato social. Ele também tinha um problema sério de acne.

HETFIELD: Não há muito que dizer, eu acho. Quando eu conheci Lars, minha mãe tinha acabado de falecer. Todo mundo era o inimigo naquela época. Eu não era bom em falar - isto veio de crescer no ambiente em que eu estava, meio alienado. Eu estava cansado de explicar a minha situação religiosa. Assim que a banda se formou, eu pensei, eu não preciso mais falar. Lars pode falar tudo. Então ninguém entendia sobre o que diabos as músicas falavam [risos].

PLAYBOY: Então, qual era a sua situação religiosa?

HETFIELD: Eu fui criado como um Cientista Cristão, que é uma religião estranha. A regra principal é, Deus vai arrumar tudo. Seu corpo é só um escudo, você não precisa de médicos. Era alienador e difícil de entender. Eu não podia fazer educação física para jogar futebol. Era estranho eu ter que sair das aulas de saúde na escola, e todas as crianças dizerem, "por que você tem que sair? Você é algum tipo de aberração?". Quando criança, você quer ser parte do time. Eles estavam sempre cochichando sobre você e pensando que você era estranho. Isso era bem chato. Meu pai dava aulas de domingo - ele estava nisso. Isso foi forçado em mim. Nós tínhamos estes pequenos depoimentos, e tinha uma garota que havia quebrado seu braço. Ele se levantou e disse, "eu quebrei meu braço, mas agora, olha, está tudo bem". Mas estava meio desfigurado. Agora que eu penso sobre isso, é bem desconcertante.

PLAYBOY: Você já fugiu de casa?

HETFIELD: Uma vez, eu e minha irmã nos separamos. Nossos pais nos pegaram cerca de quatro quadras de distância. Eles nos espancaram, basicamente.

PLAYBOY: Então você acredita em bater nos seus filhos?

HETFIELD: Bater nos meus amigos, e suas esposas. Sim, como último recurso. Mas bater exige uma grande explicação do motivo.

PLAYBOY: Como era o relacionamento dos seus pais?

HETFIELD: Era o segundo casamento da minha mãe - eu tenho dois meio-irmãos mais velhos. Eu realmente não via nenhum tumor. Eles não brigavam na frente das crianças. Quando meu pai saiu para uma "viagem de negócios" - por mais de alguns anos, sabe? Eu estava começando o ginásio. Era segredo que ele tinha ido. Finalmente, minha mãe disse, "o pai não vai voltar". E isso foi bem difícil. Houveram alguns momentos ruins - minha mãe precisava ficar em casa quando nós, crianças, estávamos em casa, ou eu teria matado a minha irmã. Nós nos batíamos pra caramba. Eu me lembro de a queimar com óleo quente, e isto foi, "uau, isto foi longe demais". Minha mãe se preocupava pra caramba, e isto a deixou doente. Ela escondia isto de nós. De repente, ela estava no hospital. Então, de repente, ela se foi. O câncer a pegou. Nós fomos e passamos a viver com nosso meio-irmão Dave, que é 10 anos mais velho. Minha irmã estava sendo desobediente, então foi mandada pra fora de casa. Eu terminei o colegial, então, "até mais, todo mundo".

HAMMETT: James vem de um lar destruído, e eu venho de um lar destruído, e quando eu me juntei a banda, nós meio que nos unimos por isso. Eu fui violentado quando criança. Meu pai bebia muito. Ele batia em mim e na minha mãe até que bastante. Eu consegui uma guitarra, e quando eu tinha 15 anos, eu mal saía do meu quarto. Eu lembro de ter afastado meu pai de uma briga com a minha mãe um dia. Minha mãe estava lutando para apoiar a mim e a minha irmã. Eu definitivamente direcionei muito ódio na música. Eu também fui violentado por um vizinho quando eu tinha nove ou dez anos. O cara era um doente maldito. Ele tinha feito sexo com meu cachorro, Tippy. Eu posso rir disso agora - droga, eu ria disso naquela época.

PLAYBOY: Parece que o heavy metal atrai um número desproporcional de pessoas que foram violentadas.

HAMMETT: Eu acho que heavy metal é terapêutico - é a música que acaba com a tensão. Eu acho que é por isso que pessoas que tiveram infâncias realmente ruins são atraídas pelo heavy metal. Ele permite que as pessoas liberem agressividade e tensão de um jeito não violento. Além disso, heavy metal tem um sentimento de comunidade - ele une os excluídos. Heavy metal parece atrair todo tipo de animal sujo, perdidos, sem rumo, que ninguém quer.

ULRICH: Eu sempre tive problemas com isso, pois eu não sinto que eu tenha tido nenhum dano psicológico mais sério em minha vida. Por que isso é limitado ao metal? Se você for a um show do Elton John, as pessoas têm a mesma bagagem emocional. Se você colocar em fila 10 fãs do Metallica em uma parede, você terá 10 histórias diferentes.

PLAYBOY: E três deles mijarão na parede.

ULRICH: Um deles baterá sua cabeça contra a parede, sim. Eu não me sinto tão confortável em aceitar esses tipos de clichés.

PLAYBOY: No começo, você considerou outros nomes além de Metallica?

ULRICH: Nós tínhamos uma lista de 20 nomes possíveis: Nixon, Helldriver, Blitzer. Eu realmente gostava de Thunderfuck.

PLAYBOY: Quando vocês começaram a atrair fãs do sexo feminino?

HAMMETT: As garotas sempre estiveram presentes nos shows. Só que elas não eram muito diferentes dos caras.

ULRICH: Garotas vinham no ônibus e chupavam o ônibus inteiro. Como, "Ok, aqui estão duas garotas, todo mundo fala uma fila". As pessoas podem dizer, "Eca, ela acabou de chupar o outro cara...". E daí? Você não precisa enfiar sua língua goela abaixo nela.

HETFIELD: Elas gostavam do que faziam. E, hehe, elas eram boas nisso. Naquela época, nós todos compartilhávamos as coisas. "Eu a comi. Cara, aqui! Pega a minha garota". Lars usaria o charme nela, falar até chegar nas suas calcinhas. Kirk tinha cara de bebê e isso era bom com as garotas. E Cliff - ele tinha o maior pau. Isso se espalhou, eu acho.

ULRICH: Nós tínhamos este negócio chamado de biscates pesadas - era muito bom. Nós saíamos do palco e havia tipo umas 10 garotas peladas nos chuveiros.

HAMMETT: Eu não consigo imaginar porque de repente eu era bonito. Eu acordei com outra aparência? Uma conta gorda no banco fará você ficar bonito. Ninguém nunca havia me tratado dessa forma antes na minha vida.

PLAYBOY: Quem era o maior galinha da banda?

ULRICH: Todos nós tivemos alguns momentos de boa putaria. Eu não acho que exista alguém nesta banda que não teve momentos de gozos ocasionais.

PLAYBOY: O que você lembra da noite em que Cliff morreu?

HETFIELD: Eu me lembro de acordar com as porcarias voando para todos os lados. Eu quebrei a janela de emergência de cueca, 20 graus, e Cliff não estava lá. Eu lembro de ver suas pernas saindo por de baixo do ônibus. Ele tinha as pernas mais brancas e magras. Eu sabia que ele havia se ido então. O ônibus estava bem em cima dele. Nós estávamos todos no hospital, e nosso manager de turnês disse, "vamos juntar a banda e ir". Quando ele disse a palavra banda - não era a palavra certa. "Merda, nós não somos mais uma banda". Nós fomos ao bar e começamos a beber.

HAMMETT: Cliff era um cara muito esperto, muito eloqüente. Eu simplesmente não entendo porque ele se foi, e nenhum de nós não.

NEWSTED: Cliff Burton era meu Deus. Ele era o guru. Eu quero dizer, ninguém antes dele e ninguém desde então tocou daquele jeito. As pessoas o copiaram, mas ninguém atingiu seu sentimento ou habilidade.

PLAYBOY: Então você era um grande fã lá em Arizona?

NEWSTED: Metallica foi a grande influência de minha banda, Flotsam and Jetsam. Nós tocávamos praticamente só nas redondezas de Arizona, em clubes e festas desertas.

PLAYBOY: O que é uma festa deserta?

NEWSTED: Você empresta dos seus pais, junta 80 ou 120 dólares, e aluga um gerador por um dia. Pega algumas mesas da escola e faz um palco, e você aluga uma máquina de fumaça. Você pega uns caras para comprar um barril, e diz, "assim que as pessoas chegarem, vocês nos darão 40 dólares." Você tem o U-Haul preso no buraco, pega algumas mesas e coloca por baixo dos pneus e tenta tirar a caminhonete de lá. Os caras que estão comprando o barril já estão bebendo. É uma hora da tarde. Eles tem magnums .44 do lado deles. Em Arizona, você precisa mostrar sua arma, você pode carregar o que quiser. Já totalmente bêbado, você descobre que elem roubaram um supermercado na noite passada. "Ah sim, nós vamos conseguir dinheiro desses caras". Então se prepara e toca por uma hora ou duas e os policiais de Scottsdale aparecem e acabam com tudo e isso é o fim. Eu não fiz nenhum dinheiro tocando até entrar no Metallica. O máximo que eu me lembro de ter conseguido - por aquilo que pensávamos ser um grande show - foi US$26 entre nós cinco.

PLAYBOY: Você sente falta disso?

NEWSTED: Eu sinto falta da sujeira. Eu sinto falta da fome. Eu sinto falta da excitação de sair cedo do trabalho para preparar o equipamento no clube. E sete pessoas aparecerem, mas você ainda tocar como se fossem 700. Tinha um Burger King logo do outro lado do principal clube que tocamos - nós pedimos uma montanha de hambúrgueres de 29 centavos. Feliz com isso! "Eu vou pegar uma Coca". "Não, cara, isto são mais dois hambúrgueres! Foda-se isso! Nós vamos roubar cerveja de alguma dispensa, cara". Senão seriam batatas cozidas com ketchup roubado do Burger King.

PLAYBOY: Você viu o Metallica enquanto Cliff estava vivo?

NEWSTED: Sim. Em Phoenix, com Wasp, antes de sair o Master of Puppets. Primeira fileira. Bem em frente a Cliff Burton, reverenciando-o. Babando. Bangueando loucamente. Catorze dólares por uma camiseta, que foi todo o dinheiro do mundo naquela época. Nós fomos só pra ver o Metallica. Assim que o Metallica acabou, fomos embora. Eles detonaram, e nós sabíamos que tudo que eles faziam era de coração.

PLAYBOY: Como você soube que ele morreu?

NEWSTED: Um amigo me acordou as seis da manhã. Ele disse, "Você precisa ver o jornal, cara". Eu lembro de lágrimas molharem o jornal e ver o papel se encharcar. Nós usamos munhequeiras pretas quando tocamos os shows seguintes.

PLAYBOY: Depois que você soube que o Cliff morreu, quanto tempo passou até que você pensou, hmm, Metallica vai precisar de um novo baixista?

NEWSTED: Eu sonhei com esse dia. Algo como, e se, e se, e se?

PLAYBOY: Eles te trouxeram a São Francisco para uma audição. Você estava nervoso?

NEWSTED: A semana inteira, eu não dormi. Eu posso ter cochilado algumas vezes. Por cinco dias eu fiquei de pé e toquei o máximo que pude. Bolhas e bolhas estouraram. Quando eu não conseguia sentir o nervo interno enquanto eu tocava a corda, eu parava um pouco. Uns amigos meus juntaram algum dinheiro para pagar os US$140 da passagem de avião para eu ir a minha audição.

PLAYBOY: Bem tosco eles não terem pagado sua passagem de avião. Eles foram duros nas pessoas que estavam fazendo audição?

NEWSTED: Um cara veio, ele tinha o baixo autografado por um cara do Quiet Riot ou algo assim. E o James só falou, "Próximo!" Desse jeito, antes do cara ter chance de plugar o baixo. Os caras eram, tipo, detonados.

PLAYBOY: Conte-me sobre o primeiro ano com eles.

NEWSTED: Difícil. E muitos testes emocionais.

HETFIELD: Nós estávamos lamentando com raiva. "Você está aqui ao invés do Cliff, então é isso que você ganha". Era terapia pra gente.

NEWSTED: Um dia, as 4 da manhã, eles esmurraram e bateram na minha porta do hotel e nós estávamos em Nova Iorque. "Levanta, maldito! É hora de beber! Viado!" Sabe? "Você está no Metallica agora! É melhor você abrir essa porcaria de porta!". Eles continuaram batendo. Kaboom! A moldura da porta partiu, e a porta veio voando. E eles vieram, "você devia ter atendido a porta, puto!". Eles pegaram o lençol e o enrolaram comigo dentro. Eles colocaram as cadeiras, mesa, rack da TV - tudo do quarto - em cima do lençol. Eles jogaram minhas roupas, minhas fitas, meus sapatos pela janela. Creme de barbear por todos os espelhos, pasta de dente em todos os lugares. Só devastação. Eles saíram correndo pela porta, "Bem vindo a banda, cara!".

PLAYBOY: Você sabia que eles estavam falando às pessoas que você era gay?

NEWSTED: Não. Quero dizer, cara, tinha tanta coisa, que isso é detalhe mínimo.

PLAYBOY: Por que eles faziam isso e por que você aturava isso?

NEWSTED: Porque era o Metallica, era meu sonho que virava realidade, cara. Eu estava realmente frustrado, de saco cheio e me sentindo indesejado. Eles fizeram isso para ver se eu podia agüentar. Se você vai vestir os sapatos de Cliff Burton, você precisa ser resistente.

PLAYBOY: Ok, caras, quem bebia mais no Alcohollica?

HAMMETT: James. Ele bebia meia garrafa de Jägermeister sozinho, e ainda bebia vodka.

ULRICH: James Hetfield: Se eu e James começássemos a beber na mesma hora, seis horas de licor forte depois, eu estaria caído. Por um bom tempo, ele estava bebendo álcool em um nível diferente de nós.

HETFIELD: Eu. Eu tinha que tomar uma garrafa de vodka para me divertir. Eu estou surpreso de ainda estar vivo.

NEWSTED: Essa é uma pergunta difícil. Dedo a dedo, eu acho que Lars. Ele pode chegar em um nível diferente, pois é dinamarquês. Eles são acostumados desde pequeno.

ULRICH: [risos] Eu tinha uma mentalidade meio que de períodos; se eu bebesse por três dias, então eu não colocaria nenhuma gota nos próximos quatro.

NEWSTED: James é o único que já bebeu tanto que não pôde aparecer no ensaio ou para fotos. Ele é o único que realmente se envenenou.

HAMMETT: Jason não bebe tanto quando o resto de nós. Ele gosta de fumar maconha.

PLAYBOY: Pessoas que gostam de música rápida geralmente gostam de drogas rápidas. A banda já se envolveu com speed?

HAMMETT: Speed é uma má palavra em nosso campo. Mas viciados em speed nos amam.

ULRICH: James é o único que nunca realmente gostou de nenhum tipo de droga. Eu, Jason, Kirk e Cliff estávamos sempre experimentando coisas diferentes em um nível mais alto.

HAMMETT: Cocaína definitivamente tem estado presente em nossas vidas. Você sai com outros músicos, e a próxima coisa que sabe, você tem cinco caras esmagados dentro de um banheiro. Eu tive um problema ruim com coca na turnê do And Justice for All, mas eu saí disso, pois isso me deprimia, basicamente. Eu tentei heroína uma vez. Eu sou grato por ter odiado isso.

ULRICH: Eu tentei ácido uma vez; eu estava totalmente com medo. A única droga que eu realmente usei foi cocaína. Ela me dava algumas horas a mais de bebida. E muita gente usa isso como forma de se aproximar de você, e você cai nisso. Eu ia em círculos e dizia, "tá certo, eu vou parar com isso por um tempo". E eu parei por seis meses.

PLAYBOY: Jason, com o passar do tempo, a banda parou de te atormentar?

NEWSTED: Na verdade, eles ficaram mais duros com o passar do tempo. O segundo e terceiro anos foram os mais brutais. Ao invés de brincadeiras fraternais, haviam coisas que magoavam profundamente e eram baseadas no desrespeito.

PLAYBOY: O que eles fizeram que foi tão desrespeitoso?

NEWSTED: Abaixar o volume do baixo no And Justice for All. Não ouvir minhas idéias, musicalmente.

PLAYBOY: O Jason está no And Justice for All?

HETFIELD: Sua foto está lá [gargalhadas]. Alguém me mandou um CD de brincadeira, com um adesivo do lado de fora escrito, "And Justice for All - agora com baixo!"

ULRICH: É o único álbum nosso que eu não me sinto confortável com ele. Virou sobre habilidade e quase atlético, ao invés de música.

PLAYBOY: Bandas são geralmente como famílias, e parece que esta família briga bastante.

HAMMETT: Tem muita novela e dramas secundários que aparecem por estar nesta banda. Eu me sinto como referendo. Eu tenho sido o intermediador entre James e Lars, e eu tenho sido o intermediador entre Lars e Jason.

HETFIELD: Vivem falando o nome de Lars, não é? [Risos] Ele geralmente é o instigador, com sua boca. Ele pode ser mala de verdade algumas vezes, e ter atitudes. Eu o soquei no palco uma vez - provavelmente nosso terceiro show já feito. Nós combinamos que tocaríamos Let It Loose para nosso encore, mas ele foi lá e começou uma música diferente, Killing Time, porque começava com bateria. Eu virei: "Ei, filho da puta!". Eu não conseguia lembrar as letras, foi uma falha completa.

ULRICH: Eu comecei a música que eu queria tocar. Eu não me lembro porque - talvez eu achasse que combinava melhor com o encore. E ele me socou.

HETFIELD: Eu me lembro de jogá-lo contra seu kit de bateria algumas vezes, jogar alguns cimbals, cortando sua cabeça.

ULRICH: Eu tive algumas brigas com o Jason.

HAMMETT: Eu nunca bati em ninguém da banda. Eu pratico muito ioga atualmente, e leio muita filosofia oriental. Eu acredito muito em karma: nada de carne, nada de bife, nada de porco, nada de frango.

HETFIELD: Eu definitivamente não sou o cara mais esperto da banda, então ganhar um argumento intelectual não vai acontecer. Partir para a violência costumava funcionar. E intimidar.

HAMMETT: Quando James vem gritando até você, ele pode intimidar.

PLAYBOY: Muitas coisas ruins aconteceram com o Metallica. Isto significa que a banda tem um karma ruim?

HAMMETT: Bem possível. Tá louco, nós passamos por muita coisa. Tem que ser karma. Eu não sei se é a energia que nossas músicas liberam. As pessoas direcionam a energia de nossas músicas - 90 porcento do tempo isso é bom, mas talvez 10 porcento do tempo seja ruim. Eu ouvi histórias de skinheads ouvindo nossas músicas e tatuando títulos delas em seus braços com grandes suásticas logo abaixo. Talvez seja só karma pessoal. Talvez o motivo de James ter tido tantos acidentes seja por causa de seu próprio karma, e isto afeta a banda.

PLAYBOY: Como você descreveria a mudança que veio depois de And Justice for All, começando com o álbum preto?

ULRICH: Os primeiros discos foram sobre força bruta, coisas desse tipo. Enquanto James passava a se sentir mais confortável, elementos de vulnerabilidade e confusão apareceram, com coisas menos bate-cabeça. Ao invés de "está tudo fodido e eu vou matar tudo quando acordar", é mais como, "está tudo fodido e eu estou realmente sofrendo com isso".

HETFIELD: No álbum preto, quando eu fui escrever as letras, eu não sabia sobre o que escrever. Eu estava tentando escrever letras que a banda poderia dar suporte - mas nós quatro somos indivíduos completamente diferentes. Então a única forma foi entrar.

PLAYBOY: Sobre todas as coisas que você escreveu, James, qual foi a música que você mais hesitou em gravar?

HETFIELD: Nothing Else Matters. Foi uma grande virada. Era sensível.

PLAYBOY: Falando sobre isso, Nothing Else Matters é meio que no estilo da música Babe do Styx.

HETFIELD: Vai se foder. Vai se foder totalmente [sorrisos]. Eu não achei que a banda fosse gostar. Mas eles foram bem abertos a ela.

HAMMETT: Tudo que eu podia pensar na época era, James escrevendo uma música de amor para sua namorada? Isso é estranho.

NEWSTED: A princípio, eu não achei que soava muito Metallica para mim. Eu gosto das coisas rápidas, pesadas. Eu não acho que o Metallica deve fazer country. Nós chegamos bem perto disso com Mama Said (do Load). Eu não achei que isso foi muito bom pra mim.

HAMMETT: James sempre quer parecer esse cara que é muito confiante e forte. E para ele escrever letras como aquela - mostrando um lado sensível - precisou ter colhões. Lars, Jason e eu estávamos nos divorciando. Eu estava destruído emocionalmente. Eu estava tentando me livrar desses sentimentos de culpa e falha e direcioná-los a música, para conseguir algo positivo disso. Jason e Lars também estavam, e eu acho que isso tem muito a ver sobre o porque do álbum preto soar como soa.

PLAYBOY: Antes, vocês eram uma das bandas mais populares de heavy metal. Com o álbum preto, vocês se tornaram mainstream.

NEWSTED: Assim que aparecemos na MTV, garotas mais bonitas começaram a aparecer nos shows. De um dia pro outro.

HAMMETT: Pode soar cliché, mas garotas gostam de melodia, elas gostam de músicas calmas, tranqüilas. E se é isso que faz com que elas caiam na nossa armadilha, mais energia nisso.

PLAYBOY: Você pensa que...

HETFIELD: Não. Eu não gosto de pensar.

PLAYBOY: Apenas alguns poucos álbuns venderam mais de 10 milhões de cópias. Você acha que o álbum preto é o maior disco da banda?

HETFIELD: Existem algumas músicas lá que eu não gosto. Through the Never foi um pouco irracional. Don't Tread on Me, provavelmente não é um das minhas músicas favoritas musicalmente. Holier Than Thou foi um das músicas mais bobas, mais no estilo antigo de escrever.

PLAYBOY: Quando o Load saiu em seguida, vocês estavam de cabelo curto e estavam usando maquiagem e roupas da moda. Foi uma grande mudança de jeans e mullets.

HAMMETT: Foi só uma fase. Era a moda da época. Vai saber? Nós podemos fazer algo ainda mais extremo no futuro.

PLAYBOY: Como o Hetfield de vestido?

HAMMETT: Eu acho que isso seria extremo [risos].

HETFIELD: Eu deixei o Lars e o Kirk tomarem um pouco a frente de nossa imagem. Eu realmente não gosto de ver isso agora. Nossos fãs vinham, "o que aconteceu com o Metallica, a rebeldia, o cabelo comprido, a nojeira, a banda do vai-se-foder?". Agora era U2 ou Stone Temple Pilots, ou alguma outra banda apoiada em uma imagem. Por que diabos nós precisávamos disso? Foi simplesmente estúpido. Jason e eu não gostávamos disso - Kirk e Lars estavam animados. Você ou ri disso ou acaba com isso. Eu estou fazendo ambos, na verdade.

PLAYBOY: Vocês eram meio bonitos sem os mullets.

HETFIELD: Ah, po! Mullets detonam. Cara, eu quero ter cabelo comprido e curto ao mesmo tempo.

HAMMETT: Eu nunca tive mullet, certo?

NEWSTED: Eu não vou admitir o mullet por mais do que três meses em 1987.

ULRICH: Provavelmente só o James que teve um mullet.

PLAYBOY: Bem, com certeza parece um mullet o que você tem no encarte do Garage Inc., Lars. E se o James deixasse crescer de novo seu mullet?

HAMMETT: Se ele deixar, eu vou pintar meu cabelo de rosa. "Você pode ter cabelos engraçados? Então eu também posso!".

PLAYBOY: James, você é pró-armas e pró-ambientalista. Você votou no Al Gore?

HETFIELD: Não. Eu tenho medo que alguém tire minhas armas de mim.

PLAYBOY: Então você votou no Bush?

HETFIELD: Não. Você precisar ir a cidade pra votar. Então eu não vou votar.

PLAYBOY: Você descreve beber e tocar como terapêutico. Você já esteve em uma terapia de verdade?

HETFIELD: [Concorda com a cabeça] Na época do Load, eu senti que eu queria parar de beber. "Talvez eu esteja deixando passar algo. Todo mundo parece tão feliz todo o tempo. Eu quero ficar feliz". Eu planejava minha vida ao redor de uma bebedeira: "Os Misfits vão tocar na cidade na sexta à noite, então sábado é dia de ressaca". Eu perdi muitos dias da minha vida. Indo a terapia por um ano, eu aprendi muito sobre mim mesmo. Tem muitas coisas que te deixam marcas quando você está crescendo, você não sabe porque. A música Bleeding Me (no Load) é sobre isso: eu estava tentando sangrar tudo de ruim, tirar o mau de dentro. Enquanto estava indo a terapia, eu descobri algumas coisas feias lá. Um ponto negro.

PLAYBOY: Então o maior bebedor do Alcohollica parou de beber?

HETFIELD: Eu fiquei mais de um ano sem beber - e os céus não se partiram. Era só vida, mas menos divertida. O mau não saiu. Eu não estava rindo, não estava tendo momento bons. Eu percebi, beber é uma parte de mim. Agora eu sei até onde ir. Você não pode estar de ressaca quando tem crianças, cara. "Pai, cai fora do tapete, porra!". Bem, eles não dizem isso - ainda.

PLAYBOY: Você já foi no AA?

HETFIELD: Eu não diria que eu sou um alcoólatra - mas então, sabe, alcoólatras não dizem que eles são alcoólatras.

PLAYBOY: Nessa época, você estava passando mais tempo com seu pai. Como foi isso?

HETFIELD: Começou bem mal. Muito bravo com ele por ter feito a minha família do jeito que era. Nunca foi um negócio de pai e filho de verdade de novo.

HAMMETT: James costumava ser um bêbado raivoso, sem controle, sempre brigando, sempre se envolvendo com problemas. Ele é bem mais paciente agora. Eu acho que isso tem muito a ver com o falecimento de seu pai [em 1996, durante a turnê do Load]. Depois disso, ele ficou simplesmente muito mais apreciativo, pensativo e piedoso.

PLAYBOY: James nos ataca como uma forma de caipira mais ameno.

HAMMETT: Eu concordo com isso 100 porcento. Ele vive um tipo de vida que é fácil zoar: ele vive no campo, bebe muita cerveja, tem um monte de arma, vai a caça.

HETFIELD: Eu como vegetais também, cara. Eles são fáceis demais de matar. Cenouras não tem chance de correr. Eu acho que os animais estão lá pra gente. Nós estamos no topo da cadeia alimentar.

PLAYBOY: Talvez você devesse ir em uma viagem para caçar com algumas daquelas bandas que suportam o PETA, como a Indigo Girls.

HETFIELD: Quem eu deveria matar primeiro? Oh, elas me caçando?

PLAYBOY: Você se sente desconfortável com o nível de homofobia no metal?

ULRICH: Totalmente. Ultimamente, por que que eu e o Kirk enfiamos nossas línguas na goela um dos outro de vez em quando em frente as câmeras? O mundo do metal precisa ficar puto o máximo possível. Quando a banda começou, todo mundo sentaria ao redor provando sua heterossexualidade xingando gays e coisas do tipo. Algo como, "oh, viado maldito". Isso te eleva a um nível melhor de macho? Eu nunca entendi isso.

PLAYBOY: Nós ouvimos que o James usa a palavra viado brincando. Isso significa que ele é homofóbico?

HAMMETT: Hm, provavelmente. James não teve muitas experiências com pessoas gays, e isto é uma razão para ser homofóbico. Ele precisa se abrir mais nessa área.

ULRICH: Eu sei que ele é homofóbico. Não tem o questionar sobre isso. Eu acho que homofobia é questionar sua sexualidade e não estar confortável com isso.

PLAYBOY: Pela primeira vez em anos, existem várias bandas de metal no topo das paradas. A maioria delas são bem ruins, não são?

HAMMETT: Tem muita coisa podre. Muita coisa chupinhada também. Aquela música do Papa Roach (Last Resort), o riff principal é de uma música do Iron Maiden chamada Hallowed Be Thy Name.

HETFIELD: Limp Bizkit parece meio infantil pra mim. Eu não gosto de algum cara só gritando. Como Rage Against the Machine - não é sobre cantar, é só um cara meio que bravo, falando sua opinião.

HAMMETT: Para mim, Limp Bizkit soa como um Korn de segunda categoria. Korn tem um vocalista muito melhor que é de alguma forma inteligente. Muitas dessas bandas pegam os ingredientes certos, a fórmula certa, e - voilà - eles tem uma banda de metal. Uma banda como Godsmack é só uma mistura de Metallica com Alice in Chains, com um pouco de Korn jogado no meio.

HETFIELD: Queens of the Stone Age é único. Esta banda Rocket From the Crypt me faz sentir bem.

PLAYBOY: Três de vocês são casados, dois de vocês têm filhos. O que mudou?

NEWSTED: Cinco anos atrás, a banda era prioridade sobre todas as coisas. Agora, famílias vêm em primeiro lugar. Eu entendo isso. Uma família é importante. Eu sou o único que não é casado, e a música ainda é a maior parte da minha vida. Eu quero dizer, Black Sabbath é a minha banda número um de todos os tempos, mas o Metallica fez mais pelo metal. O Metallica é a maior banda de metal pesado que já existiu. Eu quero manter isso forte. Mas o Metallica é apenas uma parte da minha vida musical, certo? Esses caras estarão felizes ficando seis meses longe da música. Eles têm outras coisas em suas mentes. Se eu tentar ficar seis dias sem tocar com alguém, coisas com ansiedade acontecem comigo.

PLAYBOY: Parece que essa sabatina está te frustrando.

NEWSTED: Sim. James e Lars começaram este negócio juntos. Eles passaram por todas as dificuldades. E eles têm sentimentos realmente sérios com a banda, sobre como ela deve correr. Isto é muito, muito difícil de engolir algumas vezes. Eu acho que nosso entendimento é que nós não queremos ser como as outras bandas, que pessoas saem e fazem projetos paralelos. Eu fiz algumas músicas incrivelmente maravilhosas com outros músicos. Elas simplesmente deixariam as pessoas de queixo caído - elas deixaram pessoas de queixo caído. Mas eu não posso lançar.

PLAYBOY: James e Lars não te deixam?

NEWSTED: Não é o Lars.

HETFIELD: Nós simplesmente não concordamos com projetos paralelos. Fãs sempre viram o Metallica como algo em que podem confiar: nós estamos sempre lá, sempre fortes, e isto é uma banda. Nós somos os mesmos caras desde o começo, essencialmente. O único jeito de sair desta banda é se você morrer. Quando você diz Metallica, você sabe quem é: Lars, James, Kirk e - uh, quem é esse cara? Jason [risos]. Quando alguém faz um projeto paralelo, ele toma parte da força do Metallica. Então tem esse negócio feio ultimamente. E não devia ser discutida na imprensa.

NEWSTED: James Hetfield é o coração e alma e orgulho do Metallica, o protetor do nome. Eu não saí para desrespeitá-lo.

PLAYBOY: Mas ele poderia te respeitar ao te deixar lançar o álbum?

NEWSTED: Nós estamos chegando bem próximos de coisas que não devíamos falar. Eu queria que ele visse que esta música é realmente parte de mim, como sua infância foi parte dele.

PLAYBOY: O que o James disse quando você o disse que queria lançar o álbum?

NEWSTED: Eu não entrarei nisso. Nós temos que mudar de assunto.

HETFIELD: Onde isso irá terminar? Ele começará a fazer turnês com isso? Ele vende camisetas? Isso é a banda dele? Essa é a parte que eu não gosto. É como se estivesse traindo sua esposa de certa forma. Nós somos todos casados com o Metallica. Casados uns com os outros.

PLAYBOY: Então o que o Jason deve fazer durante este hiato?

HETFIELD: Eu não sei, porra. Eu não sou o agente de viagens dele.

HAMMETT: Eu só espero que possamos sobreviver a isto inteiros, sem cortar os pescoços uns dos outros.

PLAYBOY: Lars, você acha que o Jason devia poder lançar seu álbum?

ULRICH: Eu não conseguiria o olhar nos olhos e dizer, "você não pode lançar esse álbum". Isso não é quem eu sou como pessoa. Isso é tudo que eu tenho a dizer. Eu não posso me envolver nesses conflitos. Eu tenho problemas com a minha vida familiar, com a minha esposa, que pesam mais do que, como, se o James Hetfield e Jason Newsted estão se bicando.

PLAYBOY: E se o Jason lançar isso de qualquer forma?

HETFIELD: Eu não sei. Isso me desapontaria muito.

PLAYBOY: Como é o disco?

HAMMETT: É um ótimo álbum.

ULRICH: É um álbum legal, bem blues, tipo uma versão mais pop de Stevie Ray Vaughan.

HETFIELD: É respeitável.

HAMMETT: Eu falei com Jason por horas a fio. Eu estou bravo por ele. James exige lealdade e unidade, e eu respeito isso, mas eu não acho que ele perceba a seqüência de eventos que ele está colocando em jogo. Jason come, dorme e respira música. Eu acho que é moralmente errado manter alguém longe daquilo que o mantém feliz. Esse álbum sempre estará disponível em algum formato - seja no Napster ou nas lojas, as pessoas vão ouvir.

PLAYBOY: Não seria engraçado se o Jason lançasse seu álbum no Napster?

HAMMETT: Isto seria realmente irônico.

HETFIELD: Eu não ligo de parecer o cuzão da banda. Bem, dentro da banda. Desde que os fãs pensem que o Lars que é o cuzão, está tudo bem [risos].

NEWSTED: James está em até que vários discos: no filme do South Park, quando Kenny vai para o inferno, James está cantando, e ele está simplesmente em todos os álbuns do Corrosion of Conformity. Isto é um tiro nele, mas eu vou guardar. Eu não posso tocar as minhas coisas, mas ele pode tocar com outras pessoas.

HETFIELD: Meu nome não está nessas gravações. E eu não vou tentar vendê-las.

PLAYBOY: Você quer lealdade e unidade na banda, mas se você for muito ditador, você pode acabar perdendo membros da banda. Nós temos três palavras pra você: Guns n' Roses.

HETFIELD: Essas são três palavras feias [risos]. Eles são um exemplo trivial de egos fora de controle. Nós definitivamente não estamos em uma situação a la Guns n' Roses. Nunca chegará a esse ponto. Eu mataria todos nós antes disso acontecer.

PLAYBOY: Então tem três contra um aqui: você é o único contra deixar Jason lançar seu disco. Este conflito pode ser resolvido?

HETFIELD: Alguns de nós terão que se dobrar um pouco.

PLAYBOY: Ou se abrir.

HETFIELD: Minhas costas doem, então não será eu.

PLAYBOY: Todos estes conflitos realmente ajudam a banda?

ULRICH: Você usou bastante a palavra conflito nos últimos 15 minutos. Ultimamente, nós temos um amor e respeito uns pelos outros que sobressai os bicamentos. O negócio chave é, nós ainda estamos aqui. Nós somos os únicos que ainda estamos aqui. Seja lá que conflitos que você esteja falando, nós ainda achamos uma forma de existir como uma unidade funcional, e praticamente ao deixar cair as toalhas ir ao palco e botar pra quebrar.

PLAYBOY: Esta é a tensão usual dentro do Metallica ou está pior agora?

ULRICH: Esta é uma boa pergunta. É um período interessante de entrevistar nós quatro separadamente. Você está ouvindo pessoas se abrirem - praticamente te usando como intermediário. Como James e Jason não se telefonam, então eles estão conversando através de você.

PLAYBOY: Você e James não têm se falado também.

ULRICH: Eu não falo com ele há um tempo, isso é verdade.

HETFIELD: Ele não me ligou. Eu tenho certeza que ele vai falar que eu não liguei para ele.

ULRICH: É um pouco de teimosia de rock star. Algo como, "ele não está me telefonando, então eu não vou ligar pra ele. Foda-se ele".

HETFIELD: Nós dois precisamos de um tempo distante; eu e este cara estamos juntos há 20 anos, cara. É um negócio extremo de amor e ódio, sabe?

ULRICH: Nós estivemos neste cenário centenas de vezes antes. Na estrada algumas vezes, nós não nos falamos por uma semana. Eu e James Hetfield somos as duas pessoas mais opostas neste planeta.

PLAYBOY: Sua esposa, Skylar, já namorou Matt Damon, e ele a tornou a modelo para a divisão feminina da Good Will Hunting. Alguns anos atrás, Matt te descreveu como um "rock star que conseguiu US$80 milhões e seu próprio jatinho - um rock star ruim, também".

ULRICH: Ele disse isso antes de nos conhecermos. E ele pediu desculpas cerca de centenas de vezes. As primeiras cinco vezes que eu o vi, ele passou 10 minutos pedindo desculpas. Ele é um amor.

PLAYBOY: E você é um colecionador de arte, o que é um hobby pouco comum para um baterista de metal. Que escolas você coleciona?

ULRICH: Expressionismo abstrato, o movimento Cobra, arte seca. Eu sou dono de muito Basquiat, muito Dubuffet, muito Kooning. Eu tenho a melhor coleção de Asger Jorn neste planeta. Eu tenho o que é universalmente considerado como uma das duas grandes pinturas de Basquiat; eu passei um ano e meio a caçando. Sair no backstage com o Kid Rock é algo excitante, mas não menos do que sentar e observar meu Dubuffet por uma hora com um gim tônica.

PLAYBOY: Nos conte sobre a turnê de 1992 com o Guns n' Roses, quando uma explosão pirotécnica o queimou durante um show em Montreal. Quão graves eram as queimaduras?

HETFIELD: Foi até os ossos. Minha mão parecia um hambúrguer. Não importava a quantidade de água que jogava, a dor vinha na hora. A parte mais dolorosa foi a terapia física - eles arrancavam a pele com uma espátula. Era brutal. Eu tomava remédios também, e ainda dói pra caralho.

PLAYBOY: Falando de dor, você já teve dores de cabeça?

HETFIELD: Você tá dizendo que está alto demais? Precisa ser alto. Você deve sentir em todo lugar.

PLAYBOY: Metallica fez bem menos shows do que de costume no último ano.

NEWSTED: Nós fizemos talvez 30 ou 40 shows, e isto é provavelmente o mínimo que já fizemos. Metallica geralmente faz de 150 a 250 shows em um ano.

HAMMETT: Eu não tenho nada contra não fazer mais turnês que duram o ano todo.

ULRICH: Dez anos atrás, nós queríamos tocar o máximo de shows possíveis e nos divertimos o máximo possível. Agora, tocar 200 shows em North Dakota não é tão estimulante quanto costumava ser. Algumas vezes é ótimo estar no palco, e outras vezes os shows em si se tornam totalmente medíocres e você só está meio que passando por eles. Quanto mais velhos ficamos, e mais curta é a turnê, melhor ficamos.

PLAYBOY: Por quanto tempo a banda pode continuar, dado o esforço físico de suas músicas?

NEWSTED: É limitado. As pessoas nunca me verão fraco, nunca me verão simplesmente de pé lá no palco. Quando o dia que eu não puder tocar chegar, eu caio fora. É assim.

HETFIELD: Um mullet branco parece bom.

PLAYBOY: Existe algum truque para escrever uma música do Metallica?

NEWSTED: Cerca de 90 porcento das músicas do Metallica são em E menor, porque a escala vocal do James é limitada - embora ele tenha desenvolvido seus limites.

PLAYBOY: Alguma chance do Metallica seguir a direção do rap-metal?

NEWSTED: Não. Sem rap no Metallica.

ULRICH: As chances do James Hetfield ir na direção do rap estão provavelmente entre zero e menos um.

PLAYBOY: Da sua perspectiva como um fã do Metallica, Jason, deve ser interessante ver James continuar evoluindo desde Nothing Else Matters.

NEWSTED: Onde eram trevas antes, agora tem muita luz, desde que as crianças de James entraram em cena. As trevas sempre estarão lá, por causa do estrago feito, mas existe um grande ponto brilhante agora.

HAMMETT: Nós não podemos cantar sobre flores e dias felizes e ensolarados, sabe?

PLAYBOY: Então, James, a próxima leva de músicas serão felizes?

HETFIELD: Yeah, eu vou começar a escrever sobre minha casa e família e cachorro. Olha, sempre tem algum tumor para escrever, e agora, dentro da banda, pode ter algum combustível muito bom.

PLAYBOY: No próximo disco, nós podemos esperar uma música chamada...

HETFIELD: Projetos Paralelos [risos]. Sempre terá alguma coisa que te deixará puto. Alguma coisa que você gostaria de mudar. Alguma coisa que te confunde. Tudo que eu preciso fazer é ir a São Francisco por um dia - eu fico puto o suficiente por uma semana.

PLAYBOY: Você é feliz no casamento, pai de duas crianças, você já fez terapia. Você até escreveu uma música de amor. Você ainda consegue achar a parte negra?

HETFIELD: Eu sei que ainda está lá, e como chegar lá. Eu posso visitá-la e sair de novo. É uma parte negra que você não consegue se livrar.

James Hetfield: Indestrutível...



James Hetfield: Indestrutível

Revista Classic Rock - Edição de Julho de 2009
Tradução em português feita por Metallica Remains.

Ele é derrubado, mas se levanta de novo. Conheça o verdadeiro James Hetfield - o gigante do metal cujo passado inclui um lar destruído e crescer com ensinamentos religiosos extremos e que ajudou a definir a trajetória do Metallica, através de brigas, tragédias, alcoolismo, abuso de drogas e colapsos.

Há uma cena no documentário de 2004 do Metallica, "Some Kind of Monster", onde o baterista Lars Ulrich petulantemente expressa sua insatisfação com o modo de gravar pós-reabilitação de James Hetfield. Especificamente, Ulrich está infeliz com o édito de Hetfield de que todo o trabalho do vindouro álbum, "St. Anger", terminasse as quatro horas da tarde para que o vocalista pudesse passar tempo com sua família. Ulrich se inquieta e resmunga: "eu percebo agora que eu mal te conhecia antes", disse ele. É uma linha jogada, mas que ressoa entre os fãs do Metallica. Afinal, desde que a banda lançou seu álbum de estreia, "Kill 'Em All", em 1983, Hetfield visivelmente se desenvolveu no arquétipo frontman de metal. Um artista intenso, descompromissado, de carisma brutal, o tempo livre de Hetfield era preenchido com mulheres fáceis, bebedeiras, southern rock e caçadas. Para sua platéia, Hetfield era um ícone a prova de balas dos bons tempos de bate-cabeça e força através de grande riffs. Eles sentiram que eles realmente conheciam esse homem - mas eles estavamente inteiramente enganados.

Sentando em um sofá de pelúcia roxa em seu escritório na base californiana de operações da banda, H.Q., o Hetfield de hoje pontua seu jeito de falar da costa oeste com a risada nervosa ocasional enquanto ele responde as questões com a sinceridade de um veterano da terapia. Como evidenciado pelo sucesso crítico e comercial do álbum de 2008 da banda, "Death Magnetic", um James Hetfield menos armas, bebedeiras e pequenos mas persistentes "problemas" que não fizeram nada além de deixar o Metallica menos afiado. Nós falamos por uma hora e meia, tempo que Hetfield provou ser longe de uma celebridade coitadinha lutando para viver sóbrio. Ao contrário, ele é amável e inteligente, mesmo quando discute detalhes mais dolorosos de sua memorável história de vida.

Classic Rock: Como foi sua infância?

Hetfield: Eu cresci no subúrbio de Los Angeles, bem classe média. Nossa casa era ótima. Eu podia andar até todas as escolas que eu frequentei - ginásio e colegial, tudo bem próximo. Meu pai era um caminhoneiro, foi eventualmente dono de uma empresa de caminhão. Minha mãe era uma mãe de ficar em casa, ela era uma artista - ela pintou e fez algumas coisas de design gráfico. É engraçado, eu lembro de estar sozinho em casa várias vezes, o que é estranho. Eu tinha dois meio-irmãos mais velhos e uma irmã mais nova. Era difícil na casa, com certeza. Eu só estava tentando me ajustar ao meu pai. Ele estava se casando com uma mulher que tinha dois adolescentes e o quão difícil isso seria. Eu me lembro de ser muito solitário, vendo minha irmã arrumar muita confusão. Uma criança do tipo bem rebelde e barulhenta. Eu vi quais foram as consequências para ela, então eu meio que fui para o outro lado. Eu estava meio que disfarçado em minhas coisas para fugir, o que não me fez bem.

Classic Rock: Você cresceu na religião Ciência Cristã?

Hetfield: Isso foi bem interessante embora alienador... Minha realidade sobre isso é que isso foi bem alienador para mim quando criança. Agora, sendo mais velho, eu posso entender a religião um pouco mais. O poder da mente permitindo pensamento positivo para te curar, tentar não reconhecer a doença, coisas desse tipo. Não ir a médicos, basicamente ignorar toda essa inteligência. Isso não fazia muito sentido para mim. Eu pensaria, agora, em minha vida, que eles funcionaram bem juntos. Sim, há um poder da mente mas há o conhecimento que aprendemos. Alguém quebra o braço dele ou dela, você vai engessar pelo menos. Isso não era nem permitido. Eu não podia ir na aula de saúde quando criança. Você está aprendendo sobre como seu corpo funciona, coisas assim. Eu não era permitido aprender isso. Eu tinha que sair da classe e ficar no corredor ou ir para a sala do diretor. Era mais como uma punição. Meus pais estavam tentando me tornar melhor ao me manterem afastado dessas coisas, mas era bem mais o oposto. Meu pai se separou quando eu tinha 13 anos. Nesse ponto, eu só disse para minha mãe: "Eu não vou mais na escola dominical. Me faça ir." E foi isso.

Classic Rock: O que você se lembra do divórcio?

Hetfield: Foi bem confuso para mim, como criança, não saber o que estava rolando. Foi meio que escondido. Esse é um grande defeito de caráter que eu ainda carrego - eu acho que todo mundo está escondendo algo de mim. Meu pai saiu e por meses e meses nós não tínhamos idéia de que ele não voltaria. Minha mãe disse que ele estava numa viagem de negócios, e finalmente disse a verdade. Só o medo de ser o homem da casa, também, não saber o que fazer. Sentir como se eu não tivesse aprendido o suficiente de meu pai, que ele não estava lá para mim e todas essas coisas começaram a se juntar. Muito ódio dele. Ele nem disse adeus. Eu não tenho idéia, sério, do que estava rolando entre os dois. Poderia ser algo completamente horrível onde ele teve que simplesmente sair ou outra coisa. Mas eles eram ambos extremamente religiosos, e para mim isso vai contra todo o negócio de divórcio. Abandono. Então eu tinha problemas de abandono. Então a minha mãe faleceu cerca de três anos depois disso. Eu atribuo isso muito ao desconforto com o divórcio e o tumor lá. Foi bem traumático.

Classic Rock: Presumidamente, ela não recebeu tratamento para sua doença?

Hetfield: Não, não, definitivamente não. Ela não estava nem interessada em descobrir o que era. Nós assistimos minha mãe definhar. Minha irmã e eu olharíamos um para o outro e não podíamos dizer nada. Era toda a lógica de saber da doença, então é lógico que você vai ficar doente. Meus irmãos, finalmente - eles eram velhos o suficientes para entender isso - disseram: "Algo está bem errado. Vamos conseguir ajuda pra ela". Mas era tarde demais. Câncer, ela morreu disso. Eu tive que ir morar com meu irmão por um tempo, deixando todos os meus amigos, na metade do colegial. Felizmente, eu tinha um irmão mais velho, David, que estava até que bem e estabilizado. Ele tinha uma esposa. E isso meio que colocou sua vida de lado, eu e minha irmã. Minha irmã não durou muito tempo - ela era problema demais. Eles encontraram meu pai e ela foi viver com ele. Eu não queria nada com ele. Demorou muito tempo para eu voltar a falar com meu pai e meio que perdoar e finalmente aceitar o amor incondicional de pai e filho. Mas ainda assim, havia várias perguntas sem respostas. Ele faleceu. Muitas das coisas que precisei passar na terapia remete a minha infância e a minha realidade versus a realidade deles.

Classic Rock: Quando foi a primeira vez que você tomou remédio?

Hetfield: Quando eu estava vivendo com meu irmão, eu tive uma dor de cabeça forte. Eu costumava ter enxaqueca o tempo todo quando criança. Eu não achava que havia algum tipo de alívio ou ajuda para isso. Rezar não parecia funcionar para mim e essa era a única receita em casa, isso ou ler a bíblia. Eu lembro do meu irmão me dar um pouco de aspirina pela primeira vez e eu enlouqueci. "O que isso vai me fazer sentir, o que isso vai fazer?" Nessa hora eu percebi os benefícios do conhecimento dado por Deus ao nosso redor, cuidando de nós.

Classic Rock: Quantos anos você tinha nessa época?

Hetfield: Provavelmente 16 ou 17 anos. Eu não tomei nada dessas coisas na escola - o que eu meio que me orgulho. Vai saber o que nos davam quando criança?

Classic Rock: Nessa época você estava aprendendo guitarra?

Classic Rock: Minha mãe me levou para aulas de piano porque nós estávamos na casa de um amigo, eu comecei a bater no piano e ela pensou que eu seria virtuoso [risos]. Três anos de aulas de piano na casa de uma idosa que tinha um cheiro horrível. Eu percebi bem cedo que isso era uma ótima ferramenta de comunicação. Eu gostava de ficar sozinho, eu gostava de me fechar para o mundo. E a música ajudou muito com isso. Eu colocava os fones de ouvido e simplesmente ouvia música. Música seria minha voz e ela se conectou em tantos níveis. Fazia totalmente sentido de que eu gostaria de me expressar dessa forma. Tinha tudo a ver com Kiss e Aerosmith. Esse foi o primeiro show que eu fui - Aerosmith e AC/DC na Long Beach Arena [12 de Julho de 1978]. Eu também amava Ted Nugent, Alice Cooper. Muitos dos rocks mais pesados e novos que eram americanos naquela época. Eu não curtia outras coisas até ser introduzido pelo Lars dois anos mais tarde.

Classic Rock: Como você conheceu o Lars?

Hetfield: Quando a gente se encontrou pela primeira vez, eu estava no colegial tocando guitarra com um amigo meu e tentando levar a banda dele, Phantom Lord. Nós respondemos ao anúncio de Lars no jornal, nos encontramos em um pequeno depósito em algum lugar, ele arrumou sua bateria, e ele não era muito bom mas tinha motivação, ele tinha conhecimento. Ele tinha a vontade e as aspirações que eu tinha.

Classic Rock: Culturalmente, quão diferentes eram vocês dois?

Hetfield: Extremamente. Além de não tocar muito bem naquela época, haviam alguns cheiros diferentes vindos dele [risos]. O estigma de ser europeu é que eles não fabricam sabão por lá e ninguém toma banho. Indo a casa dele - definitivamente uma sensação diferente. Bem amigável, bem aberta. Minha casa era bem fechada. Se você não acreditava em nossa religião... Nós não tínhamos muitos convidados. A casa de Lars era exatamente o oposto. Bem hippie, bem, "pode entrar".

Classic Rock: Aparentemente Lars tinha uma coleção de discos bem impressionante.

Hetfield: Não diria que ele foi mimado, mas como filho único, ele tinha muitos discos. Eu entrei e não podia acreditar. Eu tinha minha pilha pequena; ele tinha uma parede inteira do quarto coberta de coisas. Ele simplesmente iria na loja de discos e falaria: "eu quero conferir esses caras". Eu não podia pagar isso. Mas, cara, eu fui e comecei a gravar tudo que eu podia dele.

Classic Rock: Você era tímido naquela época?

Hetfield: Muito. Eu era muito recatado, não confiava realmente no mundo, por causa do que passei quando criança. Então, beber me ajudou a liberar um pouco, mas no final, foi pior. Eu cavei uma cova ainda mais funda para mim mesmo.

Classic Rock: Havia um sentimento de que o Metallica se tornou sua família?

Hetfield: Sim, sim. Sem dúvida. Eu procurava por pessoas com as quais podia me identificar. Eu não podia me identificar muito com a minha família e, basicamente, quando criança, ela se desintegrou bem na frente de meus olhos. Há uma parte de mim que anseia família e outra que simplesmente não aguenta pessoas. No fim, eu me senti como um lobo solitário, mas sabe, eu sinto que eu preciso de família, mas não o tempo todo.

Classic Rock: Você estava feliz de ver as costas de Dave Mustaine?

Hetfield: Eu não sei se "feliz" é a palavra certa, mas era necessário. Teria eu, Lars e ele todos tentando liderar e isto seria uma confusão triangulada. É óbvio que ele queria o mesmo caminho que nós - ele continuou a fazer ótimas coisas no Megadeth. Do jeito que as coisas estão hoje, as dinâmicas de caráter, Lars e eu somos metade da escala com Rob e Kirk sendo a outra. Eles são pessoas de ótimas idéias, mas muito boas em estar ok em deixar alguém liderar. É preciso disso, eu acho. Eles não ligam para egos e Lars e eu somos o contrário, parece. Isso que me disseram [risos]. Então naquela época, Dave tinha que ir.

Classic Rock: Em Some Kind of Monster, ele parece bem infeliz com isso.

Hetfield: Ele é uma pessoa incrível, talentosa. Talvez parte de seu caráter seja só ter esse peso em suas costas. Se eu fosse chutado do Metallica, eu também teria. Ron McGovney, nosso primeiro baixista - peso muito grande em suas costas. Eles não são capazes de realmente estar confortáveis com o agora, e é difícil de ver. Lars também disse isso na entrevista: "Você não vê o que você fez?" Mas nada disso importa porque ele está buscando algo inalcançável.

Classic Rock: Passar pelo falecimento da sua mãe tornou a morte de Cliff mais fácil?

Hetfield: Nunca é fácil. Você não se acostuma com isso, especialmente naquela idade, e a mentalidade que eu tinha, beber tanto para afogar qualquer sentimento... Essa era outra parte da Ciência Cristã: não havia funerais, período de luto onde você poderia chorar e ser amparado. Era simplesmente: "Ok, o recipiente está morto, o espírito se foi e prosseguiu a vida". Então quando Cliff morreu houve um funeral, mas eu não senti o sentimento. Eu só bebi mais. Bebi para esquecer.

Classic Rock: Lars disse que antes do acidente, você e Cliff se tornaram próximos, e um dos efeitos da tragédia foi que você e Lars se tornaram próximos depois disso. Você concorda com isso?

Hetfield: Sim. Cliff e eu realmente nos identificávamos um com o outro. Nós gostávamos muito das mesmas coisas. Mesma música - ele curtia mais Southern rock, Lynyrd Skynyrd, coisas desse tipo, que eu amo. Ele amava estar solto na natureza, fazer trilhas, acampar para caçar, beber cerveja. Ele e eu nos identificávamos um com o outro.

Classic Rock: O que você mais lembra sobre o acidente em que ele morreu?

Hetfield: Era tão frio. Nós estávamos na Suécia no inverno. Eu dormiria no banco de trás para que pudesse ser um pouco mais quente. Eu estaria bem do lado dele. Sabe, eu não penso nisso. É o que é. Nós sobrevivemos por alguma razão para continuar. Nós certamente sentimos falta de Cliff. Tantas coisas poderiam ter sido diferentes.

Classic Rock: Você acha que entraram em turnê de novo muito rápido depois da morte de Cliff?

Hetfield: Eu acho que nós fizemos tudo muito rápido depois disso. Conseguir um baixista, entrar em turnê. Nós voltamos direto. Essa foi a forma da gerência lidar com o pesar: "só toque através da sua música". Agora parece como se não tivesse tido pesar o suficiente ou respeito o suficiente, e o suficiente de lidar um com o outro e ajudar um ao outro a superar. Nós voltamos a estrada e descontamos muito disso no Jason [Newsted] assim que ele entrou. Era mais como: "sim, nós temos um baixista, mas ele não é o Cliff".

Classic Rock: Você gostava do Jason?

Hetfield: Sim, eu gostava do Jason. Havia um sentimento realmente positivo nele. Bem estilo criança, mas não infantil. As coisas que nós gostávamos, as coisas que curtimos, compor juntos, foi divertido. Então começou a crescer a fama, alguns ressentimentos foram criados e as coisas mudaram para todos nós.

Classic Rock: Lars declarou que um possível título para o disco de 1988 "...And Justice For All" seria "Wild Chicks, Fast Cars And Lots Of Drugs" ["Garotas Selvagens, Carros Velozes e Muitas Drogas"]. Isso era um retrato preciso da banda naquela época?

Hetfield: Bem, nós todos tivemos nossas batalhas, todos tivemos imoralidades que estavam crescendo monstruosamente, sabe. Sim, nós estávamos lutando contra demônios. Em um ponto, tranformou-se de diversão em destruição. Começou a nos dominar. Justice estava começando. Nós tínhamos terminado o "Master of Puppets", saído em turnê com o Ozzy e começávamos a tocar nosso próprio som. As coisas estavam dando certo e coisas se tornaram disponíveis - mulheres, festas, chame do que quiser. Nós ficamos envolvidos nisso. Era como era pra ser. Naquela época, sabe, eu não sei quem de nós era casado, mas eu com certeza não era, então estava tudo certo. Nem tanto para as namoradas esperando-nos em casa mas, sabe, são coisas que você tinha que fazer quando criança como um aprendizado. Era divertido. Você tem que fazer tudo isso para descobrir que 'bem, isso não faz parte da música'. Era como uma faixa bônus, mas começou a tomar conta de todo o disco, sabe? [risos]

Classic Rock: Usar drogas não te interessou, então?

Hetfield: Graças a Deus não me interessou. Eu tinha medo de drogas. Talvez por causa da Ciência Cristã, mas também, no colegial, minha primeiríssima banda - apropriadamente chamada Obsession - eu me lembro de ter usado maconha e pensado: "Uau, isso é ótimo". Então eu fumei cinco baseados uma noite, fui tocar e cara, me pegou muito forte. Eu surtei, pensei que estávamos tocando a mesma música por meia hora. Não gostei.

Classic Rock: Como era o Lars quando usava cocaína?

Hetfield: Ah, cara. Tagarela? Mais ainda, se isso é possível. A merda de sempre. Eu não gostava de ficar perto deles quando eles usavam isso.

Classic Rock: Você era divertido quando estava bêbado?

Hetfield: Definitivamente não. Eu ficava bem violento. Tinha o momento feliz, mas a coisa ficaria feia onde o mundo está fodido e fode você. Eu virava... o palhaço e então o punk anarquista, querendo esmagar tudo e machucar pessoas. Eu entraria em brigas. Com quem? Às vezes com o Lars. É assim que os ressentimentos eram liberados, empurra empurra, atirando objetos nele. Nós tínhamos dois tipos de personalidade diferentes. Muito diferentes. Ele quer ser sempre o centro das atenções e isso me incomoda porque eu também sou assim. Ele está lá, encantando as pessoas enquanto eu as intimidarei para que elas me respeitem assim.

Classic Rock: Isso ainda é verdade?

Hetfield: Não. Eu acho que aprendi a desligar isso. Aquela parte minha me incomodaria tanto, porque nós éramos essa banda que era tão anti-Los Angeles, anti-Hollywood, não sendo poser, apenas faça, e ele estava lá, sendo um poser. Guns N' Roses era, pra mim, como parte do inimigo. Lars estava lá, com jaqueta de couro branco, fazendo pose. Lars é desse jeito, ele irá envaidecer-se com algumas certas pessoas na vida dele e precisa entrar nelas. É apenas uma parte dele, eu acho. Ele gosta de aprender com pessoas que tenham isso. Axl tinha.

Classic Rock: Foi difícil gravar "Nothing Else Matters"?

Hetfield: Não. No começo foi. Eu não queria nem tocá-la pra eles. Era tão sincera, tão pessoal pra mim. Eu achava que o Metallica poderia apenas ter músicas sobre destruir coisas, bater cabeça, sangrar pra multidão, o que quer que fosse, contanto que não fosse sobre garotas e carros potentes, mesmo que gostássemos disso. A música era sobre uma garota, uma namorada na época. Estava apenas começando a ser capaz de expressar outros sentimentos. Eu certamente não achava que era uma música do Metallica. Quando os caras ouviram eles ficaram impressionados de como eles, eu acho, relacionaram à banda. Acabou sendo uma grande e bela música naquele álbum.

Classic Rock: Era como um grande ponto de mudança?

Hetfield: Eu diria que sim. Aquilo abriu ainda mais a porta e nos deu carta branca para tocar muitos estilos diferentes de musica. Tocou muita gente.

Classic Rock: O que você lembra a respeito da turnê de 1992 com o Guns N' Roses?

Hetfield: Cara, foi uma turnê excedente: "ei, você vai no pós-festa?" Axl gastanto milhares de dólares nessas festas. Era muito extravagante, o que não tinha nada a ver comigo. As banheiras no backstage. Eu voltaria e beberia a cerveja deles e jogaria bilhar, era isso que eu fazia. Quando eles saíssem do palco, eu já teria ido, então não precisava sair com eles.

Classic Rock: Você se desenvolveu como esse reservado gigante.

Hetfield: Muito disso tinha a ver comigo provando minha masculinidade pra mim mesmo. Muitas das coisas que eu senti que meu pai não me ensinou, como mexer com carros, caçar, sobreviver. Coisas desse tipo. Eu realmente senti que eu tinha que ir e aprender essas coisas e provar a mim mesmo que eu estou bem, que eu posso fazer isso. Meu pai era assim.

Classic Rock: Você ainda caça?

Hetfield: Atualmente não parece necessário, matar coisas só por matar. Eu não sou contra caçar mas não parece mais tão necessário quanto andar a 150 milhas por hora em um carro [risos].

Classic Rock: O que mudou seu pensamento?

Hetfield: Nós fomos caçar - isso foi pouco antes de eu ir para a reabilitação quando eu pisei feio na bola - na Sibéria. Eu tinha uma mulher e flhos em casa: "até mais, eu estou indo para Sibéria". Eu fui na península de Kamchatka, caçar ursos cinzentos em motos de neve em quatro pés de neve. Se você cai da moto, está acabado. Eu vi uma pegada de urso e parecia bem humano para mim. Eu vi algo nisso que não fazia muito sentido para mim. Nós estávamos nessa cabana no meio do nada, a quatro horas de helicóptero dessa cidadezinha de merda. Beber vodka - não havia mais nada pra beber. Isso foi o fim pra mim.

Classic Rock: Você estava desconfortável com a nova imagem da banda para o "Load"?

Hetfield: Com certeza. Lars e Kirk lideraram esses discos. Todo o tópico "nós precisamos nos reinventar" estava de pé. Imagem não é algo ruim para mim, mas se a imagem não é você, então não faz muito sentido. Eu acho que eles buscavam na verdade uma vibe estilo U2, Bono fazendo seu alter ego. Eu não conseguia entrar no clima. Todo o negócio de "ok, agora nesta sessão de fotos nós seremos roqueiros glam dos anos 70". Tipo, o que? Eu diria que metade - pelo menos metade - das fotos que estão no livreto, eu me livrei. Todo o negócio da capa, era contra o que eu sentia.

Classic Rock: O que você não gostou da capa?

Hetfield: [Risos] Como eu posso dizer? Eu acho que quando eu falei sobre ressentimentos de ser deixado de fora dos laços que eles tinham através do uso de drogas - Lars e Kirk curtiam bastante arte abstrata, fingindo serem gays. Eu acho que eles sabiam que me incomodava. Foi uma afirmação para tudo isso. Eu amo arte, mas não para chocar os outros. Eu acho que a capa de "Load" foi só uma provocação disso tudo. Eu fui junto com essa coisa de maquiagem e todas merdas loucas, estúpidas que eles sentiam que precisavam fazer.

Classic Rock: Muito foi dito sobre os cortes de cabelos na época. Isso foi uma decisão do grupo?

Hetfield: [Risos] Não foi tipo a gente ir junto e então, "ei, a gente consegue um desconto por quatro cortes?" Simplesmente foi acontecendo devagar, com a idade, cabelos mais ralos. Cabelos longos não parecia mais certo.

Classic Rock: Musicalmente, essa foi a primeira vez que o Metallica esteve incerto?

Hetfield: Eu diria que sim. Aquele período todo. Por que nós precisamos nos reinventar? Muitos dos fãs se desanimaram muito com a música, mas principalmente, eu acho, pela imagem.

Classic Rock: Você se sentiu incomodado com Kirk e Lars se beijando nas fotos?

Hetfield: Totalmente. E é por isso que eles fizeram isso. Eu sou a força por trás das aventuras homossexuais deles. Eu acho que as drogas tinham alguma coisa a ver com isso também. Eu espero. [Risos] Tiveram várias vezes em nossa carreira que as pessoas pularam fora, e isso vai acontecer. É mais doloroso ouvir, "ok, estão quebrando discos do Metallica porque eles estão processando o Napster".

Classic Rock: Parece que o Lars liderou esse negócio do Napster.

Hetfield: Ele é o porta-voz da banda. Ele gosta de falar, ele gosta de estar por aí. Eu sou extremamente orgulhoso pelo que a gente fez. Tinha que acontecer. Nenhum artista se levantaria, exceto alguns artistas de rap. Nos estávamos abandonando a atitude rebelde e, cara, não poderia haver algo mais rebelde que isso.

Classic Rock: Na entrevista de 2001 para a Playboy, você disse que o Lars é um baterista ruim.

Hetfield: Ele admitirá isso. EU não sou um vocalista muito bom, mas algo acontece quando a gente toca junto.

Classic Rock: Você viu a terapia como algo não-macho?

Hetfield: Com certeza. Até o [produtor] Bob Rock introduzir um pouco de tempo para meditar antes de tocar, "sem chance! Vão se foder, caras. Vocês perderam a cabeça? Vamos só detonar!" Eu não estava aberto a isso.

Classic Rock: Você mudou de idéia?

Hetfield: Minha grande acordada. Esposa me botando para fora de casa. Minha esposa disse: "você não voltará até que arrume isso e faça alguma terapia. Não só beber, mas todas as outras merdas que vem com isso, sabe. O desrespeito, fazer o que você quer quando você quer". Eu tinha que crescer. Eu tinha uma família.

Classic Rock: Quando foi isso?

Hetfield: Isso foi durante o "St. Anger". Nós estávamos começando a compor no Presidio [ex-base militar]. Então, em certo momento da terapia, eu percebi como a minha vida estava fodida. Quantos segredos eu tinha, quão incongruente era a minha vida, e mostrando todas essas merdas para minha esposa. Merdas que aconteciam na estrada.

Classic Rock: Mulheres?

Hetfield: Ah sim. Mulheres, bebedeiras, o que for. Isso trouxe muito medo para os outros caras, sabe [risos]. Tipo eu sou esse cara que se vangloria disso e de repente: "er, uau, não é terrível, querido, que ele tenha feito isso? Você não faria algo assim, não é?" "Oh, claro que não!" Isso deixaram as coisas pretas - e já estavam ruins naquela época. Eu acho que foi a parte salvadora do Metallica, não há dúvida. Tinha que ter um fim de algum jeito. Minha esposa se ergueu e me disse: "Ei, eu não sou uma dessas suas 'sim senhor' da estrada. Cai fora."

Classic Rock: Qual foi sua reação?

Hetfield: Minha vida acabou, primeiro de tudo. Medo é um grande motivador e isso me motivou, ter todos esses problemas com abandono e perder um grupo, perder pessoas na minha vida.

Classic Rock: E parecia que você iria perder sua banda e seu casamento.

Hetfield: Os dois ao mesmo tempo. Então foi: "eu preciso juntá-los ou eles irão embora, e então o que farei?"

Classic Rock: Quando você voltou?

Hetfield: Minha esposa estava grávida de nosso terceiro filho. Ela é minha anjinha - Marcella. Minha esposa precisava de mim lá e eu fui capaz de estar lá no nascimento, o que foi incrível, e cortar o cordão e todas esses laços. Sim, minha filha basicamente nos uniu de volta.

Classic Rock: O que você acha do "St. Anger" agora?

Hetfield: Foi mais uma afirmação do que uma peça musical de trabalho. Nós tínhamos que fazer o "St. Anger". O cara que trabalhou com nós, o [terapeuta] Phil Towle, ele disse: "todo esse trabalho que vocês estão fazendo agora não é para este disco, é para o próximo".

Classic Rock: Bob Rock ficou chateado quando vocês decidiram que Rick Rubin produziria o "Death Magnetic"?

Hetfield: Espero que sim. Não de forma mesquinha. Nós ambos sabemos que ficou confortável demais, ficou fácil demais, e você precisa explorar. Talvez não houvesse mais tensão. Ele era um quinto membro da banda, uma figura paterna. Talvez nós sentimos medo de que não poderíamos fazer um disco sem ele, mas eu espero que ele sinta falta de nós, porque nós certamente sentimos falta dele.

Classic Rock: Você achou difícil fazer turnê sóbrio?

Hetfield: A princípio foi ótimo, mas assustador ao mesmo tempo. Na maior parte do tempo era: "o que eu faço agora?" Mas quantas horas foram perdidas sentadas num bar em algum lugar, falando com pessoas que você nunca mais verá? Então eu fui passear, fazer as coisas que você faria se fosse sua primeira turnê. Os caras foram bem respeitosos.

Classic Rock: O que você e Lars tem em comum?

Hetfield: Além de crianças e uma vida familiar, nós gostamos muito de arte, embora estilos completamente diferentes de arte. Eu gosto de arte de personalização, arte sacra, fazer coisas para a banda. Ele curte muito arte abstrata. Conclua você mesmo sobre isso.

Classic Rock: Você ama o Lars?

Hetfield: Eu amo. Não há duvida de que nós fomos colocados nessa jornada por uma razão. Nós nos juntamos e, como minha esposa e eu, os opostos se atraem e é uma batalha sem fim. Nós temos essa química que funciona mesmo que ressentimentos entrem no caminho e nós não possamos ver algumas vezes. Há uma agitação, uma fricção, uma faísca que simplesmente acontece.

Classic Rock: Isto é algo que você poderia dizer há 10 anos?

Hetfield: Eu ainda poderia dizer isso naquela época. É um tipo diferente de amor. Nós não colocaríamos nossas famílias juntas e iríamos para o Havaí por uma semana. Mas, cara, quando algo acontece na estrada, alguém está desafiando o Metallica ou nossa habilidade, nós vamos agarrar a isso como se não houvesse amanhã. Nós vamos nos levantar, cuidar um do outro, e lutar até a morte.