A matéria abaixo é de autoria de Greg Pratt, e foi publicada no Brave Words & Bloody Knuckles:
Em 2 horas e 25 minutos, James Hetfield do METALLICA estará na frente de 21 mil pessoas exorcizando seus demônios. Mas agora ele está tomando um pouco de ar entre entrevistas nos bastidores apertados do GM Place em Vancouver, Canadá, parecidos com todos os bastidores que Hetfield já viu em muitas turnês mundiais. Ele não está gritando, não está correndo de um lado pro outro; está só parado, quieto.
Quando apresentados, nossos apertos de mão não se encontram, mas nos acertamos. Esperamos alguns minutos enquanto nossa “sala de entrevista” é esvaziada. Nos sentamos, enquanto eu olho para James, tantos anos de estrada expressos na sua face. Esse não é James “Fucking” Hetfield, o Monstro do Metallica. Esse é James Hetfield, ser humano. É um lembrete: ele não é de ferro, é um cara muito gente fina e não é algum tipo de monstro, pelo menos não como antigamente. Ele não é um deus imortal, mas ele é bem grande.
Críticos musicais, como sabemos, podem errar: recentemente eu coloquei o novo álbum da banda, ”Death Magnetic”, no topo da minha lista de piores do ano para esta revista. Agora que se passaram alguns meses, eu o coloquei no meu TOP 5, só pelas primeiras quatro músicas. A banda voltou de uma crise interna séria e chocou o mundo que com um álbum com muita raiva, que eles sempre tiveram, mesmo que Hetfield esteja todo sorrisos quando temos esta entrevista.
BW&BK: Como está se sentindo com o álbum?
Hetfield: "Incrível. Isso é muito surreal. Se você vê que nos estávamos prestes a acabar a banda e agora voltamos mais fortes que nunca e com um álbum que nos faz sentir vivos novamente".
BW&BK: Deve ser ótimo olhar para o CD em suas mãos e dizer “Caralho, nós conseguimos”.
Hetfield: "(risadas) Nos sentimos bem mesmo. E obviamente, quando recebemos boas respostas das pessoas, ajuda muito. Eu não quero ser a voz de todos os artistas, mas no final do dia você diz pra si mesmo: 'Estamos fazendo isso para nós, eu estou fazendo isto por mim', mas sim, é muito bom quando alguém de fora chega e diz que você fez um ótimo trabalho".
BW&BK: Suas letras… Lars disse que ficou surpreso e um pouco triste em relação a elas, porque você ainda guarda muita raiva dentro de si. Como você se sente quanto a isso?
Hetfield: Eu me sinto feliz quanto a isso (risadas). Eu gosto de fazer isso. Alimentou a fogueira da minha vida durante muito tempo, e continua assim, junto com várias outras coisas que fazem parte deste papel hoje. Mas você sabe, todos temos nossos 'casos'. Nossos defeitos, que nos apegávamos, e parecia funcionar para nós, e se queremos trabalhar com isso hoje, ainda há um pouco disso a ser explorado. Quando a raiva chega em um outro nível, não é mais só raiva. Eu mostro isso no meu trabalho. Quanto ao Lars, os defeitos dele aparecem em outro lugares (risadas), onde as pessoas não os lêem. Essa é uma das coisas que considero mais fácil de expressar, por isso que o faço".
BW&BK: Há felicidade dentro de você que não é expressada tanto quanto sua raiva?
Hetfield: “Com certeza. Me vem cada vez mais. É mais fácil sorrir que fazer cara feia. Talvez hoje quando você nos assistir, veja quatro abobados sorrindo o tempo inteiro, mas é muito bom estar lá sabendo que é esse o motivo pelo qual você está nesse mundo, ou seja, estar juntos com aqueles caras criando música e um show divertido onde todo mundo pode relaxar e curtir"
BW&BK: Já passou pela sua cabeça que chegará uma hora em que você estará muito velho para estar nesse ramo? Quando vão parar? Porque o Metallica acabaria?
Hetfield: "Claro. Porque acabaria? Acaba porque… Bom, a morte não acabaria, pirotecnia não acabaria, pessoas indo embora não acabariam conosco. Ah, o que nos pararia? Acidentes de ônibus, essas coisas sabe, eu não sei. Eu acho que quando eu e Lars decidirmos não fazer algo ou alguma coisa acontecer conosco aí provavelmente nós pararíamos. Mas isso não significa que o espírito do Metallica morreria ou o amor por ele acabaria. Escrever músicas sempre será uma parte de mim e da minha expressão pessoal".
BW&BK: Aqui você é James Hetfield; No palco, você é um baita de um mal-encarado.
Hetfield: "(risadas) Mesmo?"
BW&BK: "Conversando contigo, você parece um cara legal, sempre sorrindo. De onde vem o 'James Hetfield, com a guitarra atrás do microfone num show de arena'"?
Hetfield: ”27 anos tocando para multidões e sendo criado em Los Angeles, onde eu não gostava da cena musical. Eu acho que muito de nós como artistas viemos de onde nascemos e fomos criados. A velocidade, a intensidade, a altura do som dos nossos amplificadores, nós queríamos atenção. Crescendo em Los Angeles tocando com todas aquelas bandas glam quando tudo o que importava era o seu cabelo e as suas calças, nós sabíamos que não éramos aquilo, que o nosso negócio era a musica, e nós tínhamos que tocar mais alto, mais rápido, para as pessoas nos notarem. Você sabe que, junto com nosso jeito de ser que desenvolvemos naquele tempo, esse jeito era a sua espada, o seu escudo, é o seu tudo, você pode se esconder nele. Esse jeito toma seu corpo, sua voz, sua alma, seu ser é levado para um outro nível. Quando você pisa no palco, é como se fosse elevado para outro patamar. Eu certamente não faria o que eu faço no palco num almoço de Natal (risadas). A musicas e as pessoas me levam a algum lugar. É como as Olimpíadas pra nós. Você vai mais alto".
BW&BK: Você precisa disso?
Hetfield: "Sim. Soa como um novo vício, mas não é novo. É apenas mais claro pra mim que um vício saudável. No palco eu me sinto meio bipolar. Eu vou do monstro louco das músicas pesadas para 'Nothing else matters', onde eu realmente tento me conectar com as pessoas. Então há muitos extremos, e dependendo da canção, você se conecta a eles".
BW&BK: "Some Kind of Monster": agora que já passou algum tempo, algum arrependimento?
Hetfield:'”Eu assisto todas as noites (gargalhadas)”.
BW&BK: São 2 horas e meia de duração.
Hetfield: "Sim, eu saio do palco pra assistir (risadas). Não, nenhum arrependimento. Eu diria que provavelmente é das melhores coisas que... foi mais um presente que foi nos dado naquela altura de nossas vidas.O making-of de um álbum que virou outra coisa. Virou um registro da desintegração de uma banda, de amigos, de uma carreira antiga. Fomos filmados quando não queríamos, quando realmente queríamos ser filmados, estava tudo nele, e foi um ótimo espelho para todos nós. Aprendemos muito sobre nós mesmos e nossos companheiros. Há muita liberdade agora na banda por causa disso. Expôs nossos lado ruim e nos fez mais fortes por isso. Além que, quando alguém tentar me machucar com algo, com alguma coisa sobre o meu álbum, não me machuca mais. Você já me viu num canto chorando. Viu Lars gritando comigo quando eu queria matá-lo. Toda a roupa suja sendo lavada. E tudo isso nos deu liberdade, muito mais amigos, porque as pessoas nos vêem como humanos agora, e eu acho que nos deu muito mais respeito".
BW&BK: As pessoas te colocam num pedestal. O documentário mostrou o seu lado humano.
Hetfield: ”Sim, e como você ia dizendo, eles querem aquele James do palco. Eles acham que é você, então quando você está no aeroporto e os encontra, eles acreditam que você vai pular na esteira das malas e gritar 'Vão se fuder'. Agora eles sabem muito mais sobre nós. Eles agora podem dizer. 'James está com a sua família jantando e eu não vou incomodá-lo, eu me lembro no filme ele dizendo que isso o incomoda, mas se ele me acenar, eu posso conversar com ele'. Então 'Some Kind of Monster' nos conectou com o mundo".
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